O Público divulga um trabalho da Universidade do Minho sobre o chamado ensino a distância realizado em Janeiro deste ano considerando, portanto, o primeiro período de confinamento em 19/20.
Foram inquiridos 280 docentes e entre vários outros dados
que merecem atenção, 80% entende que se verificou uma redução efectiva no nível
das aprendizagens sendo que 70.3% afirma que os alunos abrangidos pelas medidas
definidas no regime jurídico para educação inclusiva sofreram maior impacto.
Nada de novo, desde o início do primeiro desconfinamento que
muitas vezes aqui tenho referido questões desta natureza, os impactos do ensino
não presencial.
Talvez por isso, me sinta à vontade pars umas notas breves
sobre algo que me parece desajustado, a referência ao falhanço do “ensino a distância”.
Em primeiro lugar não devemos falar de ensino a distância,
mas sim em ensino não presencial com apoio de recursos digitais.
Importa recordar que em Março de 2020 é decidido o
encerramento das escolas e, praticamente, num fim-de-semana, escolas e
professores realizaram um esforço gigantesco para manter mais de um milhão de
alunos ligados às suas escolas e professores.
Sabe-se dos inúmeros constrangimentos ao nível de recursos,
nas famílias e nas escolas, na formação, das condições de desigualdade nos
contextos familiares considerando espaços, equipamentos, disponibilidade,
literacia digital, etc.
Foi reconhecido que alunos em situações mais vulneráveis
sofreram maior impacto dos constrangimentos verificados, sempre assim é e assim
será.
Apesar deste cenário começa aqui o que me parece ser o
verdadeiro falhanço, a crença mágica de que o “ensino a distância” seria o “novo
paradigma”, o novo ensino.
Perto do final do ano lectivo passado foi anunciado que em
Setembro de 2020 todos os alunos teriam portátil e kit de acesso a dados, assim
com as escolas teriam o seu parque informático actualizado.
Como se sabe nada disto aconteceu, ainda hoje não chegaram às
escolas e aos alunos os equipamentos necessários e aqui sim, temos um falhanço,
independentemente das razões apresentadas, resposta dos mercados, por exemplo,
que, talvez, se minimizassem com encomendas atempadas.
Acontece que em Janeiro de 2021 o ensino voltou ao modo não
presencial, não ao “ensino a distância”. Apesar da experiência do ano anterior
que escolas e professores acumularam, da formação que muitos docentes obtiveram,
de alguma evolução nos recursos e equipamentos, as vulnerabilidades de muitos
alunos e contextos continuaram de forma muito significativa pelo que, de novo,
emerge a conclusão dos impactos nas aprendizagens.
Com dois confinamentos na mochila surge então um discurso,
algumas vezes assustador, incluindo do Ministro da Educação, sobre a “geração
perdida”, perdas irreversíveis e levantam-se ideias, algumas delas, estranhíssimas
sobre a “recuperação das aprendizagens”, objectivo que aliás, já vinha do
início do ano lectivo devido ao primeiro confinamento.
Entretanto, ainda aguardamos o Plano de Recuperação em preparação
por um grupo de especialistas. Esperemos pelo Plano embora me parecesse mais
adequado que a grande aposta fosse em planos das escolas, são quem conhece os alunos
e o “estado da arte” das suas aprendizagens e que estas fossem dotadas dos
recursos necessários e competentes.
Em síntese, sublinhar o “falhanço” do ensino a distância
parece-me um olhar enviesado. Globalmente, não tivemos ensino a distância apesar de muito boas
experiências. Existiram sim, constrangimentos emergentes das desigualdades sociais, falhanços nas respostas ao
nível do planeamento, dos equipamentos e apoios às escolas, professores, alunos
e famílias.
Como já disse, o que me parece que falhou claramente foi a ideia que a certa altura se instalou de que tínhamos chegado ao futuro através do ensino não presencial, do novo paradigma digital, sobretudo quando consideramos os primeiros anos de escolaridade.
Não, que se dotem as escolas, os professores e os alunos dos melhores recursos digitais e das competências para a sua utilização a partir do espaço de onde ainda emerge a escola, a sala de aula, com alunos e professores próximos.
PS - Foi actualizada a promessa de dotar todos os alunos e professores com cumputadores. Passou de Setembro de 2020 para o final de 2022, um ligeiro atraso. Ao que parece, o tiro de pressão de ar não funcionou pelo que será necessário aguardar por um tiro de "bazuca". Bom, vamos esperar.
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