No início da semana foi divulgado um trabalho da Human Rights Watch envolvendo estudantes, pais e professores, “Os anos não esperam por eles’: Aumento das desigualdades no direito das crianças à educação devido à pandemia de covid-19”, segundo qual se estima que 90% da população em idade escolar no mundo tiveram a o seu percurso educativo prejudicado pela pandemia, em particular dos períodos de confinamento.
Neste contexto é fortemente recomendado pela Organização que nos diversos planos de recuperação em desenvolvimento nos
diferentes países a aposta na educação seja um eixo crítico e com os recursos
necessários.
Julgo que ninguém terá dúvidas sobre os efeitos devastadores,
mas de impacto desigual que os últimos tempos tiveram nos sistemas educativos.
No entanto, parece-me importante não esquecer que a situação pré-pandemia
estava longe de ser amigável para muitos milhões de crianças em todo o mundo,
independentemente dos níveis de desenvolvimento dos países ainda que,
naturalmente, os mais vulneráveis tenham as suas populações também com maiores
dificuldades.
Ainda de acordo com a Human Rights Watch com dados da ONU, “Uma
em cada cinco crianças estava fora da escola antes mesmo da covid-19”.
Como é óbvio, a pandemia acentuou de forma devastadora o
atropelo do direito à educação e ao bem-estar que muitos milhões de crianças já
experimentavam e que evidencia a fragilidade das políticas públicas de muitos países em matéria da
educação e apoios sociais.
É neste contexto que emerge a minha inquietação. Do meu ponto de vista, a questão central não deve ser definida em torno da recuperação dos efeitos da pandemia nas aprendizagens ou no bem-estar através de planos de recuperação finitos, mas sim, na mudança ao nível das políticas públicas dos diferentes países, incluindo Portugal, que, para além de forma mais imediata “recuperarem aprendizagens”, tenham impacto a prazo através de recursos suficientes e competentes, definição de dispositivos de apoio eficientes e de acordo com as necessidades, apoios sociais que minimizem vulnerabilidades que a escola não suprime, valorização da educação e dos professores, diferenciação e autonomia nas respostas das instituições educativas, etc.
Sintetizando, para além da conjuntura próxima, cuidar dos danos da pandemia, importa considerar o que é estrutural e imprescindível em nome do futuro, a qualidade da educação e uma educação de qualidade para todos.
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