Era uma vez, estavam dois miúdos num parque, um desses
sítios que algumas terras ainda têm para os mais pequenos brincarem, quando
podem e os deixam, é claro.
Não havia muita gente. Os miúdos, às tantas, rebolavam no
chão um bocado engalfinhados.
Passou um médico e pensou que eles talvez se magoassem
porque aquelas brincadeiras podem ser perigosas.
Passou um antropólogo e pensou como ainda provavelmente se
realizam lutas simbólicas por territórios, apesar das mudanças culturais.
Passou um pai e pensou como era possível que as crianças
estivessem ali sozinhas nos dias que correm.
Passou um professor e pensou como seria mais útil que
estivessem a ler algo de interessante em vez de se comportarem assim.
Passou um sociólogo e pensou como desde cedo se procura
hierarquizar as relações sociais.
Passou um psicólogo e pensou como começa a ser tão frequente
o bullying.
Passou um padre e pensou como os padrões morais que regem os
comportamentos se alteram e a violência se instala.
Passou outro miúdo e perguntou “Estão a brincar a quê?”.
Responderam os outros, “Às lutas, também queres brincar?”, “Quero” disse o que
chegou.
E ficaram três miúdos a rebolar-se no chão um bocado
engalfinhados. E felizes.
1 comentário:
Que texto!!!
Obrigada por esta reflexão.
Quem me dera continuar professora/criança
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