A fotografia do bebé de três
semanas resgatado ainda com vida do mar
em Ceuta que nos bateu em cheio nos últimos dias, a fotografia registada em 2019 de
Oscar e Valeria, pai e filha com 23 meses, sem vida, num último abraço à beira
do Rio Grande, a fronteira entre México e Estados Unidos que queriam passar
perseguindo um sonho de vida digna, a fotografia também de 2019 de Yanela
Sanchez a chorar na fronteira dos EUA, a fotografia de Omran, 5 anos, em Alepo
dentro de uma ambulância em 2016, a fotografia de Aylan, três anos e também
sírio, morto numa praia turca em 2015, a fotografia de … deveriam ser motivo
para que a gente que manda no mundo não dormisse.
O terror e o horror percebidos nestas
fotos são um murro violento num mundo que não soube nem parece interessado em proteger e alimentar
um sonho.
Já faltam as palavras para falar
do horror e da barbaridade que vão acontecendo e cada vez mais perto de nós. Sei também da inutilidade deste texto, ainda assim aqui fica.
A mediocridade das lideranças actuais da
generalidade dos países e entidades que põem e dispõem no xadrez do poder mundial e de
tantos outros subservientes e submissos que, em muitos casos, de pessoas não
sabe nem quer saber, permite, sem um sobressalto e com palavras que de inócuas
são um insulto, que se assista à barbaridade obscena que as imagens, os relatos
mostram e o muito que se imagina, mas não se vê.
Crescem muros, morre gente inocente, milhões de vidas destruídas, a barbaridade estende-se, o horror é imenso e, por vezes, nem a retórica da condenação é convincente e muitos menos é eficaz, evidentemente.
A questão é séria, os ventos sempre semeiam tempestades e as tempestades num mundo global não ficam confinadas nos epicentros.
Não existe terror mau e terror
bom. Não existe horror mau e horror bom. Não existe terrorismo bom e terrorismo
mau, não existe democracia sem direitos humanos.
Como é possível que tal horror
aconteça e tanta gente com responsabilidades assobie para o ar e se fique pelas
palavras de circunstância?
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