Desculpem a insistência, mas o sofrimento de muitos milhares de adolescentes e jovens justifica.
O calendário das consciências determina para hoje o Dia
Internacional Contra a Homofobia, Bifobia e Transfobia.
A UNESCO divulgou um trabalho realizado com a Organização Internacional
de Jovens e Estudantes LGBTQI (IGLYO), segundo o qual mais de oito
em 10 pessoas inquiridas referiram ter ouvido comentários negativos dirigidos a
pessoas por serem LGBTQI (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transgénero, Queer,
Intersexuais).
Conforme o inquérito da IGLYO, 54% das pessoas LGBTQI
sofreram bullying na escola pelo menos uma vez, devido à sua orientação sexual,
identidade de género, expressão de género ou diferenças de características
sexuais.
O trabalho envolveu de 17.000 crianças e jovens entre os 13
e os 24 anos e mostrou também que 83% dos estudantes ouviu, pelo menos, algumas
vezes, comentários negativos relativamente aos alunos LGBTQI e que 67% foram
alvo desses comentários, pelo menos uma vez.
Em Portugal, a propósito do bullying homofóbico, um trabalho
da Associação ILGA Portugal (2018) envolvendo 700 jovens dos 14 e aos 20 anos,
refere que 73,6% já sentiu alguma forma de exclusão intencional por parte dos
colegas.
São dados inquietantes e conforma a peça do Expresso refere,
sendo genericamente grave, em alguns países a situação é ainda mais
preocupante.
Neste contexto e dada a gravidade e frequência com que
ocorrem estes episódios, é imprescindível que lhes dediquemos atenção ajustada
a sinais dados por crianças e adolescentes, nem sobrevalorizando, nem tudo é
bullying, o que promove insegurança e ansiedade, nem desvalorizando, o que pode
negligenciar riscos e sofrimento.
Neste universo e mais uma vez importa considerar dois eixos
fundamentais de intervenção por demais conhecidos, a prevenção e a intervenção
depois dos problemas ocorrerem. Esta intervenção pode, por sua vez e de forma
simplista, assumir uma componente mais de apoio e correcção ou repressão e
punição, sendo que podem coexistir. Com alguma demagogia e ligeireza a
propósito do bullying, as vozes a clamar por castigo têm do meu ponto de vista
falado mais alto que as vozes que reclamam por dispositivos de prevenção,
intervenção e apoio para além da óbvia punição, quando for caso disso.
Esta utilização mostra a necessidade de dispositivos de
apoio e orientação absolutamente fundamentais para que pais, professores e
alunos possam obter informação e apoio. Em Portugal estão criados vários
portais e disponíveis alguns canais de denúncia e procura de orientação e
suporte dirigido a pais, professores, técnicos e, naturalmente, alunos.
Lamentavelmente, parte importante das entidades e
iniciativas de apoio e suporte é exterior às escolas e ilustra a falta de
resposta estruturada e global do sistema educativo, para além das
insuficiências de recursos e na formação de técnicos e de professores sobre
esta complexa questão, desde logo para o seu reconhecimento e identificação.
A existência de dispositivos de apoio sediados nas escolas,
com recursos qualificados e suficientes, designadamente no que respeita aos
assistentes operacionais com funções de supervisão dos espaços escolares, é uma
tarefa urgente.
Do meu ponto de vista, o argumento custos não é aceitável
porque as consequências de não mudar ou não fazer são incomparavelmente mais
caras. Depois das ocorrências torna-se sempre mais fácil dizer qualquer coisa,
mas é necessário. Muitas crianças e adolescentes evidenciam no seu dia-a-dia
sinais de mal-estar a que, por vezes, não damos ou não conseguimos dar atenção,
seja em casa, ou na escola.
Estes sinais não devem ser ignorados ou desvalorizados. O
resultado pode ser trágico.
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