A passagem de olhos por diferentes páginas das redes sociais ou outros espaços da net em que se abordam problemáticas relativas a alunos com necessidades especiais tem vindo mostrar de forma crescente e sem aparente limite a oferta de programas de intervenção, técnicas, manuais, materiais e actividades da mais variada natureza, etc. que são apresentados como a solução para todas as dificuldades que possam afectar o funcionamento das crianças nas suas diferentes dimensões incluindo a escolar.
Não é raro deparar com a referência a “quadros clínicos” ou
diagnósticos que não conhecidos e muito menos reconhecidos pelo estado da arte
deste universo, assim como não é raro que uma mesma entidade ou “especialista”
ofereça uma gama diversificada de abordagens numa afirmação de conhecimento
absolutamente esmagadora.
Pode acontecer certamente que as dúvidas que se me colocam em
muitas situações se devam ao desconhecimento e ignorância. É natural, quase
cinquenta anos ligado a estas matérias será tempo suficiente, nunca será, para conhecer tudo.
Na verdade, parte do que leio sobre estas situações parece
assentar num pensamento mágico, não me atrevo a pensar noutros interesses, que sustenta
ou atesta resutados, “melhoras” e, assim, alimentam o recurso a esta gama
infindável que designo como "tudoterapia",
ou seja, tudo é terapêutico.
A minha inquietação decorre, essencialmente, do que acontece
com os pais, mas também com professores, conheço muitas situações, quando se
envolvem nestas experiências ou as úvidas com que ficam. As suas fragilidades e impotência face aos
problemas que os filhos evidenciam ou dificuldades sentidas com alunos, a
vontade inesgotável de tentar ou experimentar o que estiver ao seu alcance para
que os problemas se atenuem ou desapareçam, leva-os a investirem imenso nessas
abordagens que, na verdade, não são milagrosas e não têm resultados garantidos.
Para além dos custos, da frustração em caso de insucesso, o
mais provável na maior parte da "tudoterapia", alguns pais podem
ainda sentir-se culpados porque, por exemplo, devido a circunstâncias económicas
ou de acessibilidade, não podem providenciar tais "terapêuticas" aos
seus filhos. A "evolução" que por vezes se regista em algumas
situações, pode dever-se, por exemplo, a um efeito placebo, a uma maior atenção
ou estímulo proporcionado à criança ou adolescente e não decorrer das
propriedades terapêuticas do procedimento, para as quais, como referi, não
existe nas mais das vezes, validade científica.
Neste cenário, os técnicos têm um papel fundamental, embora
difícil, de contenção das angústias e necessidades dos pais, no sentido de
procederem a abordagens sérias e realistas sobre os objectivos, limites e
resultados esperados das intervenções disponíveis, ajudando e orientando as
famílias nas escolhas e decisões.
No entanto e felizmente, também vão surgindo pais com uma postura cítica e de escrutínio relativamente este tipo procedimento e oferta. É bom que assim seja.
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