quarta-feira, 12 de maio de 2021

DA "TUDOTERAPIA"

 A passagem de olhos por diferentes páginas das redes sociais ou outros espaços da net em que se abordam problemáticas relativas a alunos com necessidades especiais tem vindo mostrar de forma crescente e sem aparente limite a oferta de programas de intervenção, técnicas, manuais, materiais e actividades da mais variada natureza, etc. que são apresentados como a solução para todas as dificuldades que possam afectar o funcionamento das crianças nas suas diferentes dimensões incluindo a escolar.

Não é raro deparar com a referência a “quadros clínicos” ou diagnósticos que não conhecidos e muito menos reconhecidos pelo estado da arte deste universo, assim como não é raro que uma mesma entidade ou “especialista” ofereça uma gama diversificada de abordagens numa afirmação de conhecimento absolutamente esmagadora.

Pode acontecer certamente que as dúvidas que se me colocam em muitas situações se devam ao desconhecimento e ignorância. É natural, quase cinquenta anos ligado a estas matérias será tempo suficiente, nunca será, para conhecer tudo.

Na verdade, parte do que leio sobre estas situações parece assentar num pensamento mágico, não me atrevo a pensar noutros interesses, que sustenta ou atesta resutados, “melhoras” e, assim, alimentam o recurso a esta gama infindável que designo como  "tudoterapia", ou seja, tudo é terapêutico.

A minha inquietação decorre, essencialmente, do que acontece com os pais, mas também com professores, conheço muitas situações, quando se envolvem nestas experiências ou as úvidas com que ficam. As suas fragilidades e impotência face aos problemas que os filhos evidenciam ou dificuldades sentidas com alunos, a vontade inesgotável de tentar ou experimentar o que estiver ao seu alcance para que os problemas se atenuem ou desapareçam, leva-os a investirem imenso nessas abordagens que, na verdade, não são milagrosas e não têm resultados garantidos.

Para além dos custos, da frustração em caso de insucesso, o mais provável na maior parte da "tudoterapia", alguns pais podem ainda sentir-se culpados porque, por exemplo, devido a circunstâncias económicas ou de acessibilidade, não podem providenciar tais "terapêuticas" aos seus filhos. A "evolução" que por vezes se regista em algumas situações, pode dever-se, por exemplo, a um efeito placebo, a uma maior atenção ou estímulo proporcionado à criança ou adolescente e não decorrer das propriedades terapêuticas do procedimento, para as quais, como referi, não existe nas mais das vezes, validade científica.

Neste cenário, os técnicos têm um papel fundamental, embora difícil, de contenção das angústias e necessidades dos pais, no sentido de procederem a abordagens sérias e realistas sobre os objectivos, limites e resultados esperados das intervenções disponíveis, ajudando e orientando as famílias nas escolhas e decisões.

No entanto e felizmente, também vão surgindo pais com uma postura cítica e de escrutínio relativamente este tipo procedimento e oferta. É bom que assim seja.

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