Certamente com os mesmo receios e dúvidas com que terminaram as aulas inicia-se amanhã o segundo período escolar. Entre a necessidades de manter as aulas em modo presencial e as dificuldades de tal assegurar acautelando riscos e o impacto que podem conter para todos os envolvidos, as aulas recomeçarão numa “normalidade” que o não é, independentemente das narrativas produzidas.
O segundo período, a
semestralização introduz algumas diferenças de percepção, continuará a ser,
provavelmente, o período das decisões, o período com mais peso neste tipo de
calendário escolar.
Este ano, para além de muitos
outros aspectos, importa considerar o impacto nas aprendizagens de muitos
alunos, sobretudo nos primeiros anos e em alunos com necessidades especiais, do
tempo de confinamento e das dificuldades verificadas no âmbito do E@D apesar do
esforço de professores e escolas. Aliás, está para se iniciar também o estudo
do IAVE, a pedido do ME, com o objectivo de “perceber impactos da suspensão
das aulas sobre os conhecimentos de Matemática, Ciências e Leitura, envolvendo
estudantes do 3.º, 6.º e 9.º anos”, com o objectivo de “dar informação
às escolas para que possam ajudar os alunos a recuperar as matérias atrasadas.”
Amanhã tentarei deixar umas notas sobre este estudo pois não percebo muito bem
porquê agora e porquê assim.
Voltando à importância do segundo
período. Quando o primeiro trimestre corre bem e o segundo decorre de forma
igualmente positiva o sucesso do ano de trabalho escolar estará praticamente
assegurado.
Se os dois primeiros períodos não
se desenvolverem de forma positiva torna-se, obviamente, bem mais difícil a
recuperação durante o terceiro período e o risco de reprovação é muito elevado.
Assim, o segundo período é um
tempo em aberto, um tempo que permitirá manter bons resultados, recuperar de
algumas dificuldades ou “certificar”, antecipando, o insucesso.
É neste aspecto que centro estas
notas que nesta altura tenho partilhado. De facto, alguns alunos devido aos
seus resultados menos positivos no primeiro trimestre, à sua história escolar
que poderá incluir eventuais dificuldades (de novo a questão da especificidade do ano anterior) ou até pela representação que deles foi
construída, integrarão provavelmente um grupo, “ os que não vão lá”, para
utilizar uma terminologia frequente no meio escolar.
Dito de outra maneira, a escola,
algumas vezes sem se dar conta, outras por ausência de meios ou disponibilidade
e outras ainda pela convicção de que é "normal" que nem todos
aprendam apesar de possuírem capacidades para tal, constrói sobre alguns alunos
uma baixa ou nula expectativa de sucesso que não é alheia ao “eles não vão lá”
e cujos efeitos negativos estão estudados.
Neste cenário, a escola pode vir
a desistir deles e eles podem vir a desistir da escola através de processos que
nem sempre são conscientes, quer por parte da escola, quer por parte de alunos
e pais.
Curiosamente, muitos destes
alunos que “não vão lá” são reconhecidos como crianças ou adolescentes
inteligentes, dotados, de tal maneira que "se eles quisessem" teriam
sucesso. O problema é que com alguma frequência, por menor atenção, pelo número
de alunos por turma e/ou por falta de recursos, não conseguimos que eles tenham
sucesso, tal como eles não conseguem mobilizar eficazmente as suas capacidades
para serem bem-sucedidos. Eu sei que a afirmação é forte e pode ser injusta em
muitas situações, mas existem alunos de quem a escola, por várias razões,
parece ter “desistido”.
Importa, pois, iniciar este
segundo período com expectativas positivas face ao trabalho de alunos e de
docentes. Por outro lado, é também importante que as expectativas positivas e
confiança nas capacidades dos alunos lhes sejam claramente expressas por pais e
professores. Finalmente é essencial que os apoios a eventuais dificuldades de
alunos e professores estejam disponíveis, sejam suficientes, competentes e
estruturados em tempo oportuno. É o que se espera de políticas públicas adequadas à minimização de dificuldades recorrentes eà anteipação de constrangimentos previsíveis e conhecidos.
O risco de insucesso e exclusão
na escola é também o primeiro grande risco, ou mesmo a primeira etapa, da
exclusão social.
Eles vão lá. Bom trabalho e Bom
Ano.
Sem comentários:
Enviar um comentário