É impossível ir ouvindo os discursos produzidos no âmbito das campanhas para as presidenciais, mas não só, sem um enorme sobressalto. Mais do que questões de natureza ideológica trata-se de uma questão de decência. Existem linhas vermelhas que não podem ser ultrapassadas. Não por uma questão de “moralismo”, mas por questões de natureza ética e de um quadro de valores que regula, ou devem regular, o discurso público.
Do que se tem ouvido, comentar o quê? Como?
A minha questão é onde estamos a falhar?
Que mundo estamos a construir?
Estamos num tempo de perplexidade e dúvida face ao
crescimento de discursos populistas e demagógico, apelando à intolerância, ao xenofobismo
e a valores de direita radical muitos deles atentatórios de direitos humanos
básicos. Os exemplos são muitos, primeiro lá por fora e agora também por cá
vão-se multiplicando réplicas deste caminho que nos deixa inquietos face ao
futuro e criando ambientes de onde eclodem os ovos da serpente.
Milhões de excluídos e pobres e de jovens sem presente e sem
futuro são um alvo fácil para discursos populistas e radicais.
As sementes de mal-estar que que estes milhões de pessoas
carregam, muitos deles desde criança são muito facilmente capitalizadas e
mobilizadas.
Como aqui há dias escrevia, a mediocridade da generalidade
das lideranças e o que lhes permitimos fazer criaram, por exemplo, um mundo de
desigualdade e exclusão que a pandemia veio sublinhar. É aqui, insisto, que
nasce o que nos assusta.
É esta a batalha que não podemos perder e não sei se a
estamos a ganhar. Também passa pela educação, pela escola, pela formação cívica e pela cidadania.
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