Há uns dias foi divulgado que, a pedido do ME, o IAVE vai desenvolver a partir do dia 6 o estudo já anunciado em Julho para se realizar em Setembro com o objectivo de “perceber impactos da suspensão das aulas sobre os conhecimentos de Matemática, Ciências e Leitura”, envolvendo 30 000 estudantes do 3.º, 6.º e 9.º anos”, com o objectivo de “dar informação às escolas para que possam ajudar os alunos a recuperar as matérias atrasadas” e, ao que parece, “não se trata de um exame nem de uma prova de aferição” mas de um estudo (?).
Designado por “Diagnóstico de Aferição das Aprendizagens” terá um modelo próximo do de estudos o PISA, Programme for International Student Assessment, ou o TIMSS, Trends in International Mathematics and Science Study.
Ainda de acordo com a imprensa,
serão avaliadas “literacias transversais” enquadradas nas competências
definidas no Perfil dos Alunos à Saída da Escolaridade Obrigatória e contemplando
dimensões como “linguagens e textos, raciocínio e resolução de problemas,
pensamento crítico e pensamento criativo ou ainda saber científico, técnico e
tecnológico” e centrado em Matemática, Ciências e Leitura e Informações.
Foi com alguma estranheza que li
esta informação. Agora? Assim?
Como tenho escrito já me cansa duvidar
ou discordar. Seria mais tranquilo aplaudir e apoiar as medidas e iniciativas
neste meu, nosso mundo, a educação, mas também faz parte da seriedade e
importância que lhe atribuo.
Também reconheço que os tempos
são duros e os constrangimentos gigantescos para pessoas e entidades limitando
a sua capacidade de resposta. Desde logo importa reconhecer isto.
Algumas notas.
Desde o início manifestei alguma
reserva com a definição de cinco semanas para “recuperar e consolidar
aprendizagens”. Parece-me razoavelmente claro que a diversidade de situações, o
seu número, os anos de escolaridade dos alunos, as variáveis contextuais
relativas a cada comunidade escolar, recursos disponíveis em cada comunidade,
as necessidades específicas de muitos alunos, etc. etc. sugerem que devem ser
as escolas a avaliar as necessidades, identificar os recursos necessários,
estabelecer objectivos, definir metodologias e dispositivos de regulação e
avaliação.
Ainda mais estranhei quando o ME
divulgou materiais de orientação para este trabalho de recuperação e
consolidação em que se definiam “os princípios para identificação de
aprendizagens que, quando não adquiridas, são impeditivas de progressão, e com
exemplos de actividades”. O meu pressuposto sobre o trabalho dos professores é
que estes conhecem os programas sabem definir o encadeamento e precedência das
aprendizagens.
Por outro lado, também sabemos
que durante o primeiro período as escolas sentiram falta de docentes, de
técnicos e de auxiliares que chegaram ou tarde ou não chegaram e, para além de
outros constrangimentos, também sabemos que boa parte dos equipamentos e
recursos digitais prometidos ainda não estão nas escolas.
Relativamente ao estudo que se
vai iniciar e tendo como objectivo “perceber impactos da suspensão das aulas
sobre os conhecimentos de Matemática, Ciências e Leitura” e “dar informação às
escolas para que possam ajudar os alunos a recuperar as matérias atrasadas.” Porquê
realizá-lo no segundo período e devolver resultados em Março? Qual o impacto
real que poderá ter?
Sendo um estudo por amostra os
dados não são individualizados, serão indicadores certamente úteis, mas vejo
com mais dificuldade o impacto relevante que ainda possam ter no trajecto
individual dos alunos que, como disse mais acima, os professores identificaram
nas suas turmas como mais vulneráveis ao impacto negativo do confinamento.
Parece-me claro que dispositivos
de avaliação externa são ferramentas de regulação imprescindíveis nos os sistemas
educativos, mas neste caso sinto alguma dificuldade em entender a sua sustentação
e o seu impacto, sobretudo realizado agora e assim.
É certamente um problema de compreensão
ou desconhecimento da minha parte.
Ainda assim … que seja útil … se
possível.
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