segunda-feira, 4 de janeiro de 2021

DO "DIAGNÓSTICO DE AFERIÇÃO DAS APRENDIZAGENS"

 Há uns dias foi divulgado que, a pedido do ME, o IAVE vai desenvolver a partir do dia 6 o estudo já anunciado em Julho para se realizar em Setembro com o objectivo de “perceber impactos da suspensão das aulas sobre os conhecimentos de Matemática, Ciências e Leitura”, envolvendo 30 000 estudantes do 3.º, 6.º e 9.º anos”, com o objectivo de “dar informação às escolas para que possam ajudar os alunos a recuperar as matérias atrasadas” eao que parece, “não se trata de um exame nem de uma prova de aferição” mas de um estudo (?). 

Designado por “Diagnóstico de Aferição das Aprendizagens” terá um modelo próximo do de estudos o PISA, Programme for International Student Assessment, ou o TIMSS, Trends in International Mathematics and Science Study.

Ainda de acordo com a imprensa, serão avaliadas “literacias transversais” enquadradas nas competências definidas no Perfil dos Alunos à Saída da Escolaridade Obrigatória e contemplando dimensões como “linguagens e textos, raciocínio e resolução de problemas, pensamento crítico e pensamento criativo ou ainda saber científico, técnico e tecnológico” e centrado em Matemática, Ciências e Leitura e Informações.

Foi com alguma estranheza que li esta informação. Agora? Assim?

Como tenho escrito já me cansa duvidar ou discordar. Seria mais tranquilo aplaudir e apoiar as medidas e iniciativas neste meu, nosso mundo, a educação, mas também faz parte da seriedade e importância que lhe atribuo.

Também reconheço que os tempos são duros e os constrangimentos gigantescos para pessoas e entidades limitando a sua capacidade de resposta. Desde logo importa reconhecer isto.

Algumas notas.

Desde o início manifestei alguma reserva com a definição de cinco semanas para “recuperar e consolidar aprendizagens”. Parece-me razoavelmente claro que a diversidade de situações, o seu número, os anos de escolaridade dos alunos, as variáveis contextuais relativas a cada comunidade escolar, recursos disponíveis em cada comunidade, as necessidades específicas de muitos alunos, etc. etc. sugerem que devem ser as escolas a avaliar as necessidades, identificar os recursos necessários, estabelecer objectivos, definir metodologias e dispositivos de regulação e avaliação.  

Ainda mais estranhei quando o ME divulgou materiais de orientação para este trabalho de recuperação e consolidação em que se definiam “os princípios para identificação de aprendizagens que, quando não adquiridas, são impeditivas de progressão, e com exemplos de actividades”. O meu pressuposto sobre o trabalho dos professores é que estes conhecem os programas sabem definir o encadeamento e precedência das aprendizagens.

Por outro lado, também sabemos que durante o primeiro período as escolas sentiram falta de docentes, de técnicos e de auxiliares que chegaram ou tarde ou não chegaram e, para além de outros constrangimentos, também sabemos que boa parte dos equipamentos e recursos digitais prometidos ainda não estão nas escolas.

Relativamente ao estudo que se vai iniciar e tendo como objectivo “perceber impactos da suspensão das aulas sobre os conhecimentos de Matemática, Ciências e Leitura” e “dar informação às escolas para que possam ajudar os alunos a recuperar as matérias atrasadas.” Porquê realizá-lo no segundo período e devolver resultados em Março? Qual o impacto real que poderá ter?

Sendo um estudo por amostra os dados não são individualizados, serão indicadores certamente úteis, mas vejo com mais dificuldade o impacto relevante que ainda possam ter no trajecto individual dos alunos que, como disse mais acima, os professores identificaram nas suas turmas como mais vulneráveis ao impacto negativo do confinamento.

Parece-me claro que dispositivos de avaliação externa são ferramentas de regulação imprescindíveis nos os sistemas educativos, mas neste caso sinto alguma dificuldade em entender a sua sustentação e o seu impacto, sobretudo realizado agora e assim.

É certamente um problema de compreensão ou desconhecimento da minha parte.

Ainda assim … que seja útil … se possível.

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