As imagens reflectidas pelos espelhos são, acredita-se, reproduções exactas do original que as determina. Na verdade, nem sempre assim acontece, sobretudo quando se trata de gente. Aquilo que o espelho devolve é trabalhado no sentido, de tanto quanto possível, corresponder à imagem que efectivamente gostávamos que o espelho reflectisse.
É por isso que, tantas vezes, alguns de nós temos vontade de
mudar de espelho ou desejar que se inventasse um espelho com uma espécie de
"photoshop" incorporado que trabalhasse a imagem e nos devolvesse
aquilo que desejamos ver.
Com os miúdos, alguns miúdos, passa-se uma situação da mesma
natureza. Com alguma frequência, os espelhos que lhes vão devolvendo a imagem mostram qualquer coisa
como "não sabes", "não és". "não fazes", “não és
capaz”, "não rendes", "és irresponsável", "és
distraído" "não fazes nada de jeito", "não prestas" e
outro tipo de imagens.
Como é evidente, não parece particularmente confortável
lidar com espelhos que devolvem estas imagens e que podem ser vários.
Chamam-se, por exemplo, escola, pais, colegas ou professores.
Em algumas circunstâncias pode acontecer que se instale a
tentação de "partir" os espelhos que devolvem tais imagens e, como
sabemos, "partir espelhos" é uma actividade com algum perigo.
Por estas razões, mas não só, temos tantos miúdos em risco,
não aguentam a imagem de si que lhes devolvem.
É que, às vezes, os espelhos também se enganam.
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