Uma semana antes do dia da votação escrevi estas notas a propósito da campanha eleitoral.
Do que se tem ouvido, comentar o quê? Como?
A minha questão é onde estamos a falhar?
Que mundo estamos a construir?
Estamos num tempo de perplexidade e dúvida face ao
crescimento de discursos populistas e demagógico, apelando à intolerância, ao
xenofobismo e a valores de direita radical muitos deles atentatórios de
direitos humanos básicos. Os exemplos são muitos, primeiro lá por fora e agora
também por cá vão-se multiplicando réplicas deste caminho que nos deixa
inquietos face ao futuro e criando ambientes de onde eclodem os ovos da
serpente.
Milhões de excluídos e pobres e de jovens sem presente e
sem futuro são um alvo fácil para discursos populistas e radicais.
As sementes de mal-estar que que estes milhões de pessoas
carregam, muitos deles desde criança são muito facilmente capitalizadas e
mobilizadas.
Como aqui há dias escrevia, a mediocridade da
generalidade das lideranças e o que lhes permitimos fazer criaram, por exemplo,
um mundo de desigualdade e exclusão que a pandemia veio sublinhar. É aqui,
insisto, que nasce o que nos assusta.
É esta a batalha que não podemos perder e não sei se a
estamos a ganhar. Também passa pela educação, pela escola, pela formação cívica
e pela cidadania.”
Está, assim, legitimado através de eleições democráticas a disseminação
significativa de ambientes onde se abrigam os ovos da serpente e onde mais facilmente eclodem.
Como escrevi, talvez seja de reflectir sobre as razões, não
há mérito, há demérito na forma como as sociedades actuais se organizam e
funcionam possibilitando a emergência destas figuras sinistras que se alimentam
das sementes de mal-estar que afectam tanta gente que sem confiança no futuro
se sente atraída por um canto de sereia que repete à exaustão a demagogia, o
insulto, o populismo, a xenofobia, a mentira e a manipulação, o despudor ético, que
colhem apoios, mas que semeiam tempestades.
Será que ainda vamos tempo? Depende de nós e da dimensão
ética e política das lideranças. Quero ter confiança num futuro onde caibamos
todos que, sei bem, não é a sociedade que temos.
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