quarta-feira, 27 de janeiro de 2021

OS CONSUMOS DE ADOLESCENTES E JOVENS

 A imprensa de hoje refere o Relatório Anual sobre a Situação do País em Matéria de Drogas e Toxicodependência que será entregue no Parlamento e com dados até 2019. Em pleno confinamento pode parecer fora da agenda abordar estas questões, mas creio que é sempre pertinente.

Alguns indicadores divulgados pelo Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e nas Dependências.

Entre os alunos dos 13 aos 18 verificou-se um aumento do consumo de outras drogas, que não canábis, e a diminuição do risco percebido pelos alunos de 16 anos decorrente do consumo e uma evolução de consumos menos positiva que na zona europeia.

No grupo dos 18 anos aumentou o consumo de canábis entre 2015 e 2019. Apesar dos números ainda não serem, felizmente, muito significativos o número de overdoses aumenta desde há três anos sendo que duplicaram as causadas por opiáceos entre 2017 e 2018 e as causadas por cocaína sobem continuamente há três anos.

Parece verificar-se um aumento da circulação de drogas em Portugal associadas ao crescente recurso à net para a sua comercialização.

No que respeita ao consumo do álcool entre 2017 e 2019 também existem indicadores que merecem preocupação. Verifica-se o aumento continuado do consumo e da modalidade “binge drinking”, consumir muito em pouco tempo, que promovem exponencialmente casos de embriaguez em alunos de diferentes idades, 18 anos e em particular no grupo de 16 anos.

Trata-se, de facto, de um cenário que merece uma atenção que, por razões óbvias, muito provavelmente não terá nesta altura. Algumas notas já por aqui reflectidas.

O consumo de diferentes substâncias, em quantidade e em grupo por adolescentes e jovens, sobretudo ao fim-de-semana, é muitas vezes entendido e sentido como o factor de pertença ao grupo, potenciando a escalada desse consumo, juntos bebemos ou fumamos mais do que sós, como é óbvio e o "estado" que se atinge é sentido como um "facilitador" relacional.

Por outro lado, a acessibilidade aos diferentes produtos não é complicada, antes pelo contrário, processa-se com a maior das facilidades. Muitos adolescentes, ouvidos em estudos nesta matéria, referem ainda a ausência de regulação dos pais sobre os gastos, sobre os consumos ou sobre as horas de entrada em casa, que muitas vezes tem que ser discreta e directa ao quarto devido ao “mau estado” do protagonista.

Como é evidente, já muitas vezes aqui o tenho referido com base na minha experiência de contacto com pais de adolescentes, não estamos a falar de pais negligentes. Podem acontecer situações de negligência, mas, na maioria dos casos, trata-se de pais que sabem o que se passa, “apenas fingem” não perceber desejando que o tempo “cure” porque se sentem tremendamente assustados, sem saber muito bem o que fazer e como lidar com a questão.

De fora parece fácil produzir discursos sobre soluções, mas para os pais que estão “por dentro” a situação é muitas vezes sentida como maior que eles.

É preciso que a comunidade esteja atenta a estes adolescentes que, por vezes ainda antes dos 13 ou 14 anos começam a “aceder” às “litrosas”, aos shots, a qualquer outro produto para fumar ou consumir e também aos seus pais que estão tão perdidos quanto eles.

Para além da legislação de natureza proibicionista, parecem-me imprescindíveis, evidentemente, a adequada fiscalização e, sobretudo a criação de programas destinados a pais e aos adolescentes que minimizem o risco do consumo excessivo das diferentes substâncias.

É mais uma das áreas, comportamentos e saúde, que podem ser abordadas nas escolas com todos os alunos e sem que tenham de se constituir como “disciplinas” apesar de manifestos e discursos insustentáveis face a indicadores desta natureza.

Acresce que a proibição, como sempre, não basta e se prevenir e cuidar é caro que se façam as contas aos resultados do descuidar.

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