Intencionalmente, não tenho
abordado neste espaço de partilha a questão do momento, a pandemia. A razão
principal prende-se com o facto de não saber de que pandemia falar.
É verdade que existe um velho e muito conhecido
ditado popular português que reza, “uma pandemia nunca vem só” e na verdade estamos numa
pandemia de pandemias. Vejamos algumas o que talvez possa ajudar a perceber a
minha dificuldade.
Desde o início, ainda mal
conhecíamos a pandemia e emerge uma pandemia de virologistas, epidemiologistas,
infecciologistas, pneumologistas, especialistas em saúde pública e outra gente
de ciência que regularmente alimentam uma pandemia de informação impossível de
digerir e entender.
A esta soma-se uma outra pandemia
a que também chamam de informação, esta produzida por opinadores profissionais
ou avençados, carregados de agendas que vendem com um ar convencido opiniões mascaradas
de saber que são mais um contributo pandémico, tantas e tantas vezes indigesto
e inútil.
Com as pandemias de informação
mistura-se a pandemia da desinformação que através da imprensa, das redes
sociais ou de outros suportes que confunde e alastra facilmente com efeitos
potencialmente devastadores.
Temos a pandemia dos efeitos da
pandemia, sejam os dramáticos números de infectados com consequências fatais
para muita gente, sejam os efeitos devastadores na perda de rendimentos para
muitas pessoas e actividades económicas, sejam os efeitos graves ao nível da
saúde mental e qualidade de vida, sejam … enfim, uma pandemia de efeitos.
Temos a pandemia das decisões que
vão sendo tomadas e que com frequência não nos parecem claras, pouco
concertadas, que vão sendo ajustadas ou alteradas pelas reacções e também sem
que nos fique claro o porquê, o como, o para quê que vão minando a nossa
confiança e, como consequência alimentando a desconfiança e insegurança.
Uma última referência algo que
nunca antecipei, a pandemia dos que negam a pandemia. Mais uma vez se recorre à divulgação ou venda de opinião como ciência, com discursos com base em “é assim,
porque dizemos que é assim” e porque a terra é plana e também nos querem
convencer que é arredondada, com discursos de “pela verdade” com base na
crença e numa ciência que se tortura para confessar o que se deseja ouvir e num
enviesamento claro do entendimento do que são sociedades solidárias em que o
bem-comum é uma base. Esta pandemia aliada à pandemia da desinformação é inquietante
nos efeitos.
Enfim, talvez só com uma pandemia de
vacinas a coisa se possa modificar.
Aguardemos.
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