Quando era miúdo, usava-se muito na escola a expressão "procurar
o sumo", no sentido de encontrar o essencial nos textos que nos eram dados
a ler e a interpretar. Os professores bem insistiam connosco para nos tornarmos
mais competentes na separação entre o essencial e o acessório ou, no jargão da escola,
identificar as ideias principais do texto.
Actualmente, uma das referências que recorrentemente se ouvem relativamente ao
trabalho dos nossos alunos continua a ser a sua falta de competência na
interpretação dos materiais que lêem.
Como é natural temos que trabalhar todos para que essas
competências evoluam.
A grande questão é que o ambiente em que vivemos tem, do meu
ponto de vista, vindo a dificultar progressivamente este trabalho de encontrar
o essencial, o sumo.
Boa parte dos discursos das diferentes lideranças focam-se
demasiadas vezes nas dimensões mais acessórias mesmo quando abordam questões
essenciais.
Boa parte das políticas desenvolvidas, de uma forma geral,
raramente tocam nos aspectos centrais e que carecem de reformas sérias,
privilegiam medidas avulsas e de menor impacto
Num mundo aberto e em que tudo está acessível, boa parte da informação
é “trabalhada”, quando não “fake”, e manipuladora, fabricando a visão do mundo
que se quer vender consoante as agendas dos produtores.
Os comportamentos e valores que de mansinho se vão
instalando, mesmo quando veementemente os negamos, traduzem com demasiada
frequência a preocupação com o acessório, com o imediato e menos com o
essencial.
Não é, pois, tarefa fácil ajudar os mais novos a olhar para
o mundo e a perceber o sumo, o essencial. Para além disso, boa parte do sumo
que é vendido como tal, é de plástico e de má qualidade, fazendo mal à nossa
saúde.
É também por isto que cidadania e desenvolvimento são
questões que devem ser abordados com todos os alunos.
Pela educação é que vamos.
4 comentários:
"É também por isto que cidadania e desenvolvimento são questões que devem ser abordados com todos os alunos."
Concordo, mas sem a disciplina da treta.
1. De uma forma transdisciplinar, em todas as disciplinas;
2. No cumprimento do preconizado no EAEE (direitos e deveres) em toda a vida escolar; e,
3. Na responsabilidade (orientada) pelos cargos onde os alunos estão representados (Conselho Geral, Conselho de Turma, Associação de Estudantes, Assembleia de Turma).
Olá Rui, de facto, nem tudo o que a escola pode e deve trabalhar com todos os alunos precisará de um confinamento disciplinarizado. Por outro lado, a treta é construída por ... quem a constrói, a disciplina, só por si, não é o máximo nem o mínimo, é o que fizerem dela, já vi coisas muito interessantes e também algumas tretas.
Não acredito na disciplina, nem quando vejo algo de interessante.
Na tentativa de alcançar o entendimento da tutela sobre o assunto tenho assistido a algumas ações de formação promovidas pela própria DGE. Uma lástima, é o que se pode dizer. A tutela não sabe o que pretende porque não apresenta proposta alguma de implementação. A seguir à apresentação formam-se grupos de trabalho para cada um propor como deveria ser implementada. Uma vergonha. Horrível.
As disciplinas das humanidades, e não só, são autênticos bebedouros de cidadania. Trabalhar o texto do Sermão de Santo António aos Peixes é um hino. Na Filosofia, as sombras da caverna platónica pode dar origem à melhor experiência de cidadania. A História e a Geografia são poços de tal sabedoria. Na minha própria disciplina, na Educação Física, a ordem imposta pelo cumprimento do regulamento e do fair play é outro bom exemplo, o treino da resiliência, a procura do êxito pessoal e da equipa, o respeito pelo adversário, pelas opções e falhas dos colegas e pelas decisões da arbitragem.
“A estudos deste teor chamaram os antigos Humanidades, pensando certamente que pelo estudo destas disciplinas não só se polia a língua, como também se depunha a selvajaria e barbárie das inteligências.” (Latim Medieval e Renascentista, p. 257)
Cumprimentos.
De acordo, mas sem diabolizar a disciplina pois, como também reconhecerá, entres os docentes existem múltiplas visões de educação e ensino o que associado à inexistência de dispositivos de regulação (não de avaliação) faz que sem qualquer sobressalto coexistam a excelência e a mediocridade.
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