Neste Domingo recolhido e no meio de pensamentos avulso tropecei de um hábito na nossa expressão que desde há muito me desperta curiosidade. Refiro-me a uma certa
forma de utilizar o diminutivo. Se bem repararmos, é frequente a utilização
desta fórmula quando aplicada a algo ou alguém a que, ou a quem, imputamos
características ou atributos menos positivos. Vejamos alguns exemplos. Falamos
dos que têm menos como os “pobrezinhos”, dos que achamos menos dotados como “poucochinhos”
ou “tolinhos”, dos infelizes como “coitadinhos”, de algumas pessoas como
“ceguinhos”, “maluquinhos” ou “aleijadinhos” e sempre “coitadinhos”, de
elementos de minorias como “ciganitos” ou “pretinhos”, dos mais velhos como
“velhinhos”, etc.
A eventual explicação (não é que
seja fundamental mas gosto de procurar respostas para os muitos porquês em que
tropeço) pode remeter para o embaraço ou culpa, em versão mais pesada, que
sentimos pela percepção menos positiva que sentimos e que parece atenuar-se
pelo “diminuição” do atributo, ou seja, o indivíduo é cigano mas não muito, é
só “ciganito” e, no fundo, os diminutivos também contêm uma conotação de
carinho e protecção que nos permite sossegar a consciência. Ou será que não?
Acho que vou ter que recomeçar.
Para além disto, temos ainda um
outro universo cheio de diminutivos, o universo do jeitinho, do favorzinho, da
palavrinha, uma espécie de código para “facilitar” qualquer … coisinha, claro.
Finalmente, a referência a uma dimensão da utilização dos enunciados com diminutivos a que talvez possamos chamar de proximidade e simpatia e que sempre acho muito estimulantes e gosto de acreditar na genuinidade. Nesta perspectiva, acho que uma frase como esta, como exemplo, nos soará familiar e próxima de muitas outras em diferentes contextos. “Olá, está boazinha, é só um minutinho, Ora cá está o seu pãozinho ainda vem quentinho e fofinho. Obrigadinho. Notável.
Bom, tive muito gosto por este
bocadinho dedicado à linguagem fofinha que gostamos de usar. Cuidadinho com o "bicho".
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