Parece-me interessante o texto de João Ruivo, “E há violência na escola?”, divulgado no Ensino Magazine analisando o contexto de emergência de comportamentos anti-sociais em crianças e jovens designadamente, bullying e a sua variante cyberbullying.
(…)
Nesta sociedade que tarda a reencontrar-se e onde até a
imbecilidade humana tem direito à globalização; onde, infelizmente, não sobram
exemplos de coerência e de ética; onde as famílias se constituem mais com base
no “ter” do que no “ser”; onde se permite que todos os dias se destrua um pouco
mais deste planeta que é única casa de todos, não é de estranhar que desde
muito cedo (92% das mães americanas inquiridas admitiram que os seus filhos,
com menos de seis anos de idade, já tinham acesso e brincavam na internet…) se
incrementem as tentações totalitárias, desumanas e irracionais e que estas se
sobreponham ao prazer de brincar, de conviver e de aprender com o “outro”.
(…)
Na verdade, por alteração dos estilos de vida, do quadro de
valores e de muitas outras variáveis existem contextos familiares pouco
saudáveis e reguladores do crescimento e desenvolvimento educativo de muitas
crianças com evidentes reflexos no seu comportamento em diferentes contextos
incluindo a escola.
Acresce que pelo mesmo conjunto de razões crianças e jovens
passam um tempo muito significativo no contexto escolar que sem que existam
recursos disponíveis para acomodar as questões levantadas pelos comportamentos
em sala de aula e em todo o espaço escolar.
A actual situação, com impacto fortíssimo no bem-estar
emocional e psicológico, é, naturalmente mais um indesejável contributo para um
cenário que levanta inquietações e exige atenção e intervenção.
Sem querer desculpar ou branquear comportamentos creio que o
quotidiano de muitas crianças, adolescentes e jovens está inquinado com
sementes de mal-estar que por um qualquer "gatilho" ou circunstância,
por vezes irrelevantes, se transformam em comportamentos anti-sociais ou mesmo
violência dirigida a quem quer que seja, às vezes contra si próprios.
Vai sendo tempo de nos interrogarmos sobre os tempos que
vivemos, os valores que os informam, os modelos de discursos e comportamentos
que evidenciamos, estou a escrever isto e atento ao que se passa nos EUA, dos
anónimos às elites e desde logo com as crianças, os atropelos à dignidade e
direitos, a ausência de projectos de futuro que lhes permitam a esperança e
substituam o vazio em que muita gente, mais velha ou mais nova, vive. É neste
caldo de cultura que nascem e germinam as sementes de mal-estar.
Estas sementes estão “incubadas” muitas vezes desde a
infância e adolescência e podem ir passando despercebidas até que o peso
interior leva à “necessidade” da sua exteriorização e um qualquer “gatilho” vai
detonar um conjunto de comportamentos que podem mesmo ser de extrema violência e de que, frequentemente, temos notícia ou conhecimento.
Sabemos que a prevenção e programas de natureza comunitária,
socioeducativa, têm custos, mas importa ponderar entre o que custa prevenir e
os custos posteriores da pobreza, exclusão, problemas de saúde mental, delinquência continuada ou da
insegurança nas comunidades.
É essencial uma atenção precoce e permanente atenção às
pessoas, ao seu bem-estar, tentando detectar, tanto quanto possível, sinais que
indiciem o risco de enveredar por um caminho que se percebe como começa, mas
nunca se sabe como acaba.
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