Na interessante entrevista do Professor Rui Correia ao I existe uma afirmação que merece atenção, “Tenho miúdos de dez anos que não têm quem lhes diga que valem alguma coisa". Fez-me também recordar uma história que já aqui contei e que retomo com esperança na vossa paciência, “ A história da menina que nunca teve um bom”.
Era uma vez uma menina chamada
Maria. Tinha onze anos e não era muito bonita nem simpática. Há meninos e meninas que assim são.
A Maria também não era muito boa
aluna, os colegas tinham sempre melhores notas que ela. E até se esforçava. Às
vezes tinha dúvidas, os professores procuravam ajudar mas o tempo não era muito
pelo que ainda ficava sem saber algumas coisas. Queria e tentava fazer os
trabalhos de casa, mas o pai e a mãe não sabiam ajudar porque tinham andado
poucos anos na escola e o irmão era mais novo.
A Maria era uma menina triste.
Um dia a directora de turma
perguntou-lhe porque estava assim quase sempre. Escondida atrás de uns olhos
grandes, esses sim muito bonitos mas tristes disse baixinho: “Eu nunca tive um
bom, nem sequer um bom pequeno. Gostava tanto de ter um”.
Umas aulas depois, a professora
avisou que a turma teria novo teste.
A Maria, como sempre, ficou
assustada mas depois de o fazer ficou mais tranquila, achou que tinha corrido
bem.
Quando a professora devolveu os
trabalhos a Maria viu escrito em letras gordas, bom, bom grande. Os olhos que
já eram grandes, ficaram maiores, até ela se sentia mais crescida.
Os pais contaram aos vizinhos. A
Maria podia não ter sempre notas tão altas como outros colegas mas já tinha
tido um bom. Um bom grande, aquele bom grande.
A professora também ficou Grande.
Grande e amiga.
Felizmente os professores sabem
que avaliar não é apenas classificar e muitos estão atentos às Marias que nunca
tiveram um bom e que muitas vezes se perdem na transparência do anonimato, do
destino.
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