Dois serviços do ME recusaram apoiar a distribuição pelas escolas de material produzido no âmbito do Programa Inclusão apoiado e financiado pela Comissão para a Cidadania e a Igualdade de Género. Estes materiais destinavam-se a apoiar uma campanha de combate a atitudes e comportamentos discriminatórios relativamente à orientação sexual.
A justificação, segundo o Público, para que a Direcção Geral de Inovação e Desenvolvimento Curricular e o Núcleo de Educação para a Saúde, Acção Social e Apoios Educativos recusem o apoio uma iniciativa que conta com o apoio de outra estrutura pública é o "cariz ideológico" das matérias.
Para além da óbvia confusão entre ideologia e valores, fica estranho como é que a prevenção e combate à atitudes de discriminação face a minorias se possa recusar por se tratar de ideologia. Pela mesma ordem de razões não devem ser incentivadas e muito menos apoiadas pelo ME, acções que, por exemplo, combatam a xenofobia ou o racismo, terão certamente um "cariz ideológico".
Este tipo de decisões para além da evidente incompetência é reveladora de uma assustadora irresponsabilidade. É reconhecida a presença de comportamentos discriminatórios face a minorias de diferente natureza. Sabe-se que tanto como na remediação, importa apostar na prevenção, parece claro que em matéria de prevenção o público mais jovem terá de ser sempre ser um alvo privilegiado, é de "pequenino que se torce o pepino", e é o Ministério da Educação que se opõe a iniciativas que outros organismos públicos julgaram relevantes.
Coisas dos pequeninos que nos gerem.
4 comentários:
Violência doméstica? Questão ideológica.
Xenofobia? Certamente ideologia.
Promoção das touradas na televisão pública? Simples (re)conhecimento dos valores culturais.
Nitidamente existe uma confusão entre "ideologias" e "valores".
Mas isto no meu entender revela duas realidades igualmente graves além da incompetência e mesquinhes.
1) A homofobia generalizada na nossa sociedade, porque para além de uma suposta "má comunicação" do ME existia o medo da reacção dos educadores, revelando que existe de facto uma cultura ignorante face à homossexualidade e o ME, e a sociedade em geral, reconhece-o. E nitidamente isto não incomoda mais ninguém. Basta um passeio por outros blogs para ter uma visão de como um país apesar de permitir o casamento entre pessoas do mesmo sexo tem uma homofobia galopante. (Se o DSM tem a gentileza de categorizar tanto com "patologia", para quando a Perturbação de Estupidez Galopante?
Já nem refiro a confusão entre "ideologias" e "valores".)
2) O Estado, omnipresente, em excesso, no funcionamento das escolas. Regendo, decidindo, intervindo estúpida e desnecessariamente.
Desculpe o anonimato novamente, mas já participei aqui tanta vez com pseudónimos, anónimos e afins que faria pouco sentido o contrário agora.
De acordo. Quanto ao anonimato, neste caso não é relevante, é mais relevante que pense.
No que diz respeito a questões da orientação sexual admito que não sou o melhor "pensante".
Admito uma grande intolerância à homofobia, que frequentemente não me deixa tentar sequer compreender o outro ponto de vista.
Posto isto, pode ser o meu enviesamento pessoal, a minha intolerância à intolerância da liberdade sexual, mas tenho a...à falta de melhor palavra...a sensação de que desde que o casamento entre pessoas do mesmo sexo foi aprovado em parlamento que criou-se uma resistência na sociedade à inclusão e pertença da homossexualidade.
Como se o facto de o casamento entre homossexuais tenha criado uma sensação de insegurança, ou vergonha, geral, onde os heterossexuais se insurgissem contra a homossexualidade com medo, ou complexos...não sei se me faço entender.
Principalmente entre os mais jovens, onde anteriormente via muito maior tolerância, agora vejo um comportamento intolerante, como se a intolerância servisse de "prova" da sua heterossexualidade. E onde anteriormente via apoio aberto contra a exclusão social dos homossexuais e agora observo um enorme à vontade na homofobia declarada.
Novamente, pode ser enviesamento pessoal. Espero que sim.
Creio que entendo o seu ponto de vista e também entendo que o peso de séculos de cultura que produziram(produzem)valores e representações ajuda a compreender a nossa "dificuldade genérica" de entender a diferença. A diferença é desestabilizadora das nossas seguranças, certezas e verdades. A gestão destas (in)seguranças (in)certezas que se podem transformar em dúvidas depende, de novo e sempre, da posição de tolerância individual que, no limite, nos pode levar face a um qualquer comportamento ou funcionamento de alguém, (dentro doos limites da ética e dos direitos humanos) a um discurso do tipo "não é assim que eu vejo o mundo, mas entendo como legítimo que assim possa ser visto por outro "alguém".
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