sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

A D. ERMELINDA - Outro diálogo improvável

Um dia destes encontrei a D. Ermelinda uma velhota que desde sempre morou no bairro onde vivi até há poucos anos.
Olá D. Ermelinda há uns tempos que não a via, como vai, sempre com esse bom aspecto.
Nem me digas nada. Com este, frio fico com umas dores nos ossos que nem sei. Ainda há bocado passei na farmácia para aviar a receita que a médica de família me passou. A Dra. Ana lá da farmácia, lembras-te dela? disse-me que os comprimidos para as dores já tinham menos comparticipação, eles tiram tudo à gente. Disse à Dra. Ana para me aviar só duas das receitas até receber a pensão. Com as coisas como estão, o dinheiro da pensão mal dá para a farmácia, em vez de aumentarem as pensões aumentam mas é as coisas todas, que é uma aflição. Precisava de mudar os óculos, tenho aqui uma haste quase a partir que noutro dia o meu neto, o João, lembras-te? o mais velho da minha Mariana, quando te vejo lembro-me sempre que és da mesma idade da minha Mariana. Ia-te a dizer que o João, o meu neto, fez-me cair os óculos e dobrou a haste e no oculista disseram-me que tem de ser uns óculos novos, é tudo a ajudar. Ainda por cima a semana passada apanhei cá uma gripe que nem saí da cama quase toda a semana. Até tinha tomado a vacina e pensava que não apanhava gripe mas sabes como é, aos velhos chega tudo. O que vale é que a Mariana e o marido estão bem e os netos, traquinas que havias de ver também lá vão estando, vêm cá de fugida ao fim-de-semana mas gosto sempre de os ver. De resto, olha é a velhice e esta crise que dá cabo da gente. Às vezes acendo a televisão mas só se vê desgraças e eles sempre com a mesma conversa. Dá-me uns nervos que a apago logo. E tu, estás bom?
Olhe D. Ermelinda, nem sei que lhe diga, acho que sim, que estou bom.

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