A OCDE decidiu que o Programme for International Student Assessment passará a incluir a partir de 2013, ainda em fase experimental, a avaliação dos conhecimentos dos alunos em matéria de literacia financeira, para além da óbvia literacia matemática. Sou um defensor da realização de estudos internacionais que, acautelando contextos e metodologias, nos fornecerão indicadores comparativos que são boas ferramentas de regulação da qualidade nos sistemas educativos. No entanto, devo dizer que não encontro justificação para autonomizar a chamada "literacia financeira" como matéria de avaliação. A educação matemática passa, fundamentalmente, pela aquisição e domínio de um conjunto de conceitos, competências e capacidades instrumentais que se operacionalizam na resolução de problemas ou na construção de outros conhecimentos. Assim sendo, citando um texto no Público, “testar os jovens de 15 anos em termos dos seus conhecimentos de finanças pessoais e capacidade de os aplicar a problemas financeiros ” poderia, do meu ponto de vistas, ser realizado no âmbito da aplicação dos seus conhecimentos resultantes da educação matemática. Por outro lado, entender que matérias como, cito de novo, "lidar com contas bancárias, cartões de débito e de crédito, planear e gerir o dinheiro, perceber os impostos e as poupanças, os riscos e benefícios e os direitos e responsabilidades do consumidor" serão matéria de avaliação dos alunos de 15 anos, além de alguma estranheza, pode levar a que se entenda que também estas questões devam ser objecto de "ensino escolar" o que, na linha do que se passa em Portugal, implicaria certamente mais uma disciplina e mais um manual.
Curiosamente, referi-o há tempos aqui no Atenta Inquietude, a propósito da realização do I Fórum da Poupança e do Investimento organizado pela Associação das Instituições de Crédito Especializado, ouvi um elemento da Comissão Organizadora informar que já tinha sido proposta ao ME a criação no currículo escolar de uma disciplina de “Educação Financeira” para promover literacia financeira informando ainda que estaria pronto um manual, com o acordo do ME, que seguramente chegaria em breve às escolas.
Se agora a OCDE se propõe avaliar a "literacia financeira", devo confessar a minha inquietação, temendo a retoma da ideia de mais disciplinas e manuais. Não podemos ter como lógica que tudo o que se possa transformar em área de saber se deverá transformar numa disciplina escolar.
A ver vamos, sobretudo se, depois da fase experimental desta avaliação do PISA de que Portugal estará arredado, for confirmada a avaliação nesta área e os resultados por nós obtidos.
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