segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

O TEMPO DAS OLIVEIRAS E DOS SOBREIROS

Na imprensa de hoje vi um trabalho que achei muito curioso e pouco condizente com a pressa dos tempos actuais. Tratava-se da descoberta por parte de uns investigadores da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro de um método eficaz e não destrutivo para datar as oliveiras velhas. Até aos 500, 600 anos, a margem de erro é de 1% e o método funciona até aos 3 000 anos. Acho muito curiosa esta escala do tempo das oliveiras. Ao pensar em algumas que tenho lá no meu Alentejo, com vários metros de perímetro, senti-me um gaiato, mesmo pequeno.
Já há aqui algum tempo, quando andava com o Mestre Zé Marrafa a plantar uma dúzia de sobreiros novos lá no Monte, pensávamos nesta questão.
O sobreiro é uma árvore lenta, dá a primeira cortiça aos 25 anos e tem uma expectativa de vida entre os 170 e os 200, podendo chegar aos trezentos anos, ainda assim bem longe das oliveiras.
É uma dimensão de tempo que não tem nada a ver com os tempos de hoje. Os tempos actuais são os tempos da urgência, os tempos da pressa, os tempos do para já ou, até, para ontem. São os tempos dos resultados, resultados imediatos. São tempos sem espera, só espera quem não pode comprar o tempo. Os tempos de hoje fazem do tempo um bem que ninguém tem, antes tínhamos tempo, agora temos pressa. Os tempos de hoje não são os dias, são os segundos. Por tudo isto, eu e o Velho Marrafa, que já deixámos os cinquenta para trás há algum tempo, demos por nós a rirmo-nos desta tarefa, plantar sobreiros.
Amanhã, combinámos, vamo-nos sentar à beira deles, a vê-los crescer, pelo menos, pelo menos, até à primeira cortiça. Depois logo se vê.

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