Há uns anos atrás numa tertúlia com muita gente reunida à volta do Mestre Malangatana, estava presente Rui Mário Gonçalves, uma das figuras da arte em Portugal, fundamentalmente na análise, história e crítica.
Durante a conversa e após uma intervenção de Malangatana, o Professor Rui Mário Gonçalves pega na palavra e no seu jeito culto, o dos que verdadeiramente o são, começa a desenvolver umas ideias em torno da pintura do Mestre.
Quando acabou, Malangatana, com a voz grossa e arrastada que nos encantava, responde, "não te ponhas a eruditar" e tenta mostrar-nos a todos como o trabalho que faz é uma coisa simples, é "apenas" fruto da alma que carrega ligada à terra que o gerou.
Nunca mais me esqueci do "eruditar" e muitas vezes vejo gente a falar, por exemplo na comunicação social, como quem "mostra a biblioteca" o que, devo dizer, nem era o caso do Professor Rui Mário Gonçalves.
São pessoas que usam falas herméticas, próprias do jargão da tribo a que pertencem, cheias de sofisticadas palavras e ideias que, com alguma frequência, permanecem indecifráveis para muitos dos interlocutores o que, aliás, não parece constituir problema para os eruditados pois falam para si, não para o outro, para os outros.
Como dizia, outra figura enorme da cultura portuguesa, o Dr. João dos Santos, difícil mesmo é fazer simples.
E fazer simples só os grandes Mestres o conseguem, como Malangatana, de quem hoje me lembrei, de novo. E sempre.
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