terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

O RAPAZ QUE PARECE PERDIDO

Um dia destes lá na escola, a professora Maria cruzou-se com o Professor Velho, o que está na biblioteca e fala com os livros. Como sempre faz quando tem algum tempo sobrante das milhentas tarefas que lhe estão atribuídas, ficou uns minutinhos à conversa que, como não poda deixar de ser, foi parar aos miúdos.
Pois é Velho, apesar do clima não ser dos melhores com os miúdos a coisa vai correndo sem grandes sobressaltos, além dos normais é claro. Ando um pouco preocupada com o Miguel. Sobretudo a partir do início deste segundo período tem vindo a ficar mais calado, exaspera-se com facilidade com os colegas e mesmo connosco e sinto-o muito desmotivado. Procuro falar com ele, não se mostra muito interessado, com os outros professores está também assim e parece que nada lhe interessa, parece perdido.
Assim como quem perdeu os sonhos não é verdade Maria?
Perdeu os sonhos? Não te entendo Velho.
Acho que entendes. Os miúdos, tal como os adultos, dependem muito dos sonhos para, mesmo sem dar muito bem conta disso, caminharem um caminho. Se por alguma razão às vezes também não muito clara, perdemos os sonhos, começamos a sentir dificuldade em perceber o caminho e mesmo a perceber-nos e aos outros, não nos vemos e não os vemos nos nossos sonhos e, por isso, nos sentimos perdidos e exasperados. É também por causa dos sonhos que os professores, sobretudos os bons como tu, são tão importantes para os miúdos, ensinam-lhes as ferramentas que lhes permitem sonhar.
Começo a entender, estás a dizer que ele só aprende o que temos para lhe ensinar se tiver sonhos?
Eu bem te disse que entendias, precisamos é de saber que sonhos deixou o Miguel de sonhar.

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