Um último texto sobre a tragédia do Leandro, o miúdo que morreu no Tua em Mirandela. A Procuradoria Geral da República confirmou ontem o discreto arquivamento do caso em Outubro de 2010. Como disse na altura, seria obviamente o desfecho mais provável. Sempre me pareceu completamente improvável que se viesse a estabelecer um nexo de causalidade entre os factos, mais conhecidos ou menos conhecidos, e a morte do Leandro. Por aqui nada de novo num país de brandos costumes que não saberia o que fazer se não fossem estas as conclusões, não saberíamos como lidar com tal culpa.
Também nada novo no que respeita a um dos equívocos mais frequentes entre nós, a confusão entre culpa e responsabilidade que não são de todo a mesma coisa.
Nesta tragédia, com a criança encontrada e a família em luto, sou capaz de entender que não seja possível encontrar culpados, também não o faço. No entanto, tenho uma enorme convicção, a morte de uma criança naquelas condições tem certamente responsáveis, todos os que fazemos parte da comunidade.
Estranhei, desculpem o humor negro, que ninguém tivesse referido o papel que um Inverno especialmente chuvoso que aumentou exponencialmente o caudal do Tua terá desempenhado na tragédia e que esse inverno anormal se deverá às alterações climáticas decorrentes do aquecimento global de origem humana, este sim, o verdadeiro fenómeno responsável pela trágica morte do Leandro, sem água não há afogamento.
Voltando a um registo mais sério, o que me inquieta é que tragédias desta natureza pareçam nem sequer servir para questionar o que proporcionamos diariamente aos miúdos, a atenção que damos, ou não, aos seus sinais, a que sinais devemos estar atentos que nos ajudam a antecipar situações de mal-estar que possam ter desenvolvimentos negativos, que dispositivos de apoio, recursos e modelos de organização e funcionamento das escolas serão mais necessários e eficazes, etc. etc.
Temo que o arquivamento seja isso mesmo, um arquivamento. Até à próxima tragédia.
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