A propósito da acusação de rapto agora deduzida contra um indivíduo relativamente ao desaparecimento de Rui Pedro ocorrida há 13 anos algumas notas.
Do ponto de vista jurídico, sem conhecimento de pormenores e sem formação na área, limito-me a estranhar a morosidade do processo e que apenas agora se produza uma decisão, quando a própria responsável do DCIAP vem afirmar que não existem novas provas. Nada que nos surpreenda no estado calamitoso da nossa justiça.
A minha abordagem remete mais para a própria questão das crianças desaparecidas que reentrou na agenda. Uma situação desta natureza é uma tragédia absolutamente devastadora numa família. Nós pais, não estamos "programados" para sobreviver aos nossos filhos, é quase "contra-natura". Se a este cenário acresce a ausência física de um corpo que, por um lado, testemunhe a tragédia da morte mas, simultaneamente, permita o desenvolvimento de um processo de luto, a elaboração da perda como referem os especialistas, que, tanto quanto possível, sustente alguma reparação e equilíbrio psicológico e afectivo na vida familiar a situação é de uma violência inimaginável.
No entanto e a este propósito, creio que vale a pena não esquecer a existência de muitas crianças que estão desaparecidas mas à vista, situações que por desatenção e menos carga dramática passam mais despercebidas.
Muitas crianças vivem quase abandonadas dentro das famílias, sós e sem a atenção que necessitam para crescer. Vão sobrevivendo fechadas em ecrãs e em companhia de outra gente tão desaparecida quanto eles. Nestas situações só quando algo de mais complicado acontece é que se nota como estavam desaparecidas da atenção dos adultos, desaparecidas da preocupação dos adultos.
Com mais atenção teríamos, certamente, menos crianças desaparecidas.
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