O estudo hoje divulgado no Público realizado pela Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa coordenado pelo Professor Mário Cordeiro regista o facto de, entre outros aspectos, 81.2% dos alunos do 1º ciclo inquiridos, dos 6 aos 10 anos, afirmar já ter assistido a episódios de violência na televisão e 43.6% afirmar já ter presenciado conteúdos inadequados (sinalizados com bola vermelha). È ainda relevante que 47% têm televisão no quarto.
Estes dados que vão ao encontro de outros trabalhos neste universo colocam algumas questões que já tenho abordado no Atenta Inquietude.
Um primeiro aspecto remete para a presença da televisão no quarto. Parece claro que durante o período de sono e sem regulação familiar muitas crianças e adolescentes estarão diante de um ecrã, pc, tv ou telemóvel. Com é óbvio, este comportamento não pode deixar de implicar consequências nos comportamentos durante o dia, sonolência e distracção, ansiedade e, naturalmente, o risco de falta de rendimento escolar num quadro geral de pior qualidade de vida.
A segunda grande questão remete para a natureza dos conteúdos a que as crianças são expostas. Os responsáveis têm fundamentalmente como critério o impacto nas audiências e a luta pelo mercado.
Se assim não fosse, boa parte da produção televisiva que circula em horários nobres estaria condenada face à mediocridade, violência e valores que alimenta. Somos nós os consumidores de produtos televisivos e que acompanhamos, ou deveríamos fazê-lo, os miúdos quando estão em frente ao ecrã, que temos de construir uma atitude de exigência de qualidade que minimize o consumo. A televisão limita-se a mostrar “o que as pessoas querem ver, da forma que querem ver”.
Este quadro torna necessário que se esteja atento ao quotidiano dos miúdos. Muitas crianças e adolescentes, independentemente do estatuto social e cultural das respectivas famílias, passam um tempo imenso sós, abandonados, em frente a um ecrã onde contactam facilmente com conteúdos de todas as naturezas e ou pessoas tão abandonada quanto eles e com gente disposta a aproveitar-se desse abandono e vulnerabilidade. Aliás, em muitas circunstâncias oiço pais que me dizem sentir-se com os filhos “seguros” porque estão em casa, no quarto a ver televisão ou no computador.
Neste sentido, parece-me importante um esforço grande por parte da comunidade, designadamente escola e pais, no sentido de compreender o peso e os riscos envolvidos na relação de crianças e adolescentes com o universo dos ecrãs.
Os tempos novos trazem inquietações novas.
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