quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

PROFISSÃO:TOXICODEPENDENTE

Um dia destes, em conversa com gente grande ligada ao trabalho com gente pequena alguém contou uma história curiosa. Num jardim-de-infância ao consultar as fichas dos gaiatos no que respeita ao agregado familiar, reparou que na informação sobre a mãe, na janela destinada à Profissão, estava escrito “Toxicodependente”. Devo dizer que acho notável embora, já dificilmente me surpreenda, é verdade, Profissão: Toxicodependente.
Apesar de tudo fiquei a pensar.
E imaginei uma daquelas conversas frequentes entre educadores e crianças sobre as actividades dos papás e mamãs e a menina, provavelmente, não sabendo a profissão da mãe, ser informada que, de acordo com os registos da instituição, a mãe desempenha a profissão de toxicodependente. E mais imaginei que quando os meninos se referem orgulhosamente à excelência dos desempenhos dos papás, como sabem os nossos pais são sempre os melhores do mundo, a menina expressar o seu orgulho por ter uma mãe que deve ser uma das melhores toxicodependentes do mundo, “a minha mãe é assim para que saibam” para que saibam, pensará a menina. E imagino também quando, como às vezes acontece, os senhores educadores convidarem os papás e mamãs dos meninos para falar sobre as suas profissões ao grupo de crianças, a mãe da menina virá com muita satisfação falar das particularidades, satisfações e dificuldades da sua profissão, toxicodependente.
Agora a sério. Sempre me pareceu fundamental, eu diria obrigatório que, do ponto de vista da educação a única profissão que deveria constar no que respeita ao pai era, adivinhem, isso mesmo, pai e, naturalmente, na profissão da mãe deveria constar simplesmente mãe.
O resto é acessório e motivo de ruído e enviesamentos no olhar sobre as crianças.

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