A propósito da notícia de hoje no I sobre a educação separada por géneros assumida pelos Colégios Fomento em parceria com a Opus Dei em que o Presidente dos Colégios vem sustentar a evidência científica das vantagens do modelo, recordei-me que há uns temos atrás esteve em Lisboa o Professor Cornelius Riordan, sociólogo, proferindo uma conferência sobre as vantagens das escolas só para rapazes ou só para raparigas. Na altura escrevi aqui algumas notas que hoje retomo.
Como nota prévia, importa esclarecer que não discuto a legitimidade que informa a decisão de pais e encarregados de educação sobre as escolas que desejam para os seus filhos. Sendo certo que a liberdade de escolha é condicionada por múltiplos factores, também é certo que essa escolha pode assentar em critérios como público ou privado, dimensão, estatuto social predominante, laica ou religiosa, com farda obrigatória ou não, com formação de natureza militar ou não, com co-educação ou com separação de géneros, estabelecimentos em moda, etc. Num esforço de alargamento de opções poderá colocar-se até a possibilidade de se desejarem escolas para alunos com excesso de peso que terão, naturalmente, um plano curricular reforçado no âmbito da actividade física e cuidados redobrados na alimentação ou escolas para qualquer forma de minoria para que, ideia peregrina, fiquem mais protegidas dos excessos das maiorias, etc. Estas escolhas assentarão, necessariamente, no conjunto de valores, cultura, representações, expectativas, etc. dos pais. Trata-se de uma opção que lhes assiste.
A questão mais substantiva e que justifica o comentário é a afirmação de que escolas separadas por género são melhores e alguma da sustentação aduzida. O Professor Riordan referia que mais de metade dos estudos não são conclusivos sobre os efeitos positivos, mas crê nas vantagens das escolas separadas. Uma outra justificação prende-se com a questão do assédio sexual !!! Para demagogia não está mal. Parece também que as políticas educativas promotoras da equidade nos géneros faliram porque o Eminente Professor acha que o facto de as raparigas terem actualmente um maior acesso por exemplo ao ensino superior e, frequentemente, melhor rendimento académico, implicou a transformação dos rapazes “num grupo claramente em desvantagem” o que só se resolve se forem para escolas separadas. Não lhe ocorre um momento pensar nos processos educativos e na sua qualidade, certamente um pormenor irrelevante. Parece ainda que a Senhora Hillary Clinton deve a sua bem-sucedida carreira à frequência de uma escola só para raparigas. Fantástico.
O Presidente dos Colégios Fomento parte de um elenco de características próprias a cada género para sustentar a bondade da separação, argumento ridículo, no mínimo, numa sociedade em que ninguém é igual a ninguém e sem nenhuma base científica que as relacione com as questões da educação e as capacidades para serem bem sucedidos ou sucedidas. Uma outra questão interessante e não abordada pelo Eminente Professor Riordan nem pelo Presidente dos Colégios Fomento, remete para os limites da educação separada. Será desejável até ao fim do secundário ou será melhor prolongar também durante o ensino superior e, entretanto, começar o processo de separação do mercado de trabalho também por géneros uma vez que em adultos também homens e mulheres têm características diferentes?
Termino como comecei, entendo como totalmente legítima a existência de valores e opiniões que sustentem a opção pela educação separada mas, por uma questão de honestidade intelectual, não os mascarem de ciência.
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