sexta-feira, 26 de novembro de 2010

O BOM POVO PORTUGUÊS

Com dados recolhidos em 2008, portanto antes dos efeitos mais gravosos da crise, os indicadores para Portugal do European Social Survey sobre a visão dos cidadãos sobre o chamado “estado social”, que em Portugal foi operacionalizado pelo Instituto de Ciências Sociais de Lisboa, evidenciam-se alguns dados curiosos.
Em síntese, pode dizer-se que os portugueses são dos europeus que mais importância dão ao estado social, dos que menos estão dispostos a ver os seus impostos aumentados para o sustentar, que entendem que a maioria dos que recebem apoios não precisam e aos que precisam não chegam os apoios.
No Público, os autores do estudo sugerem algumas leituras para estes dados. No entanto, do meu ponto de vista, também sugerem uma outra abordagem mais direccionada para o nosso sistema de valores e convicções.
Assim, temos bem nítida a convicção instalada entre nós de que, eles, o estado, devem resolver os nossos problemas. Pensa assim, o empresário ou o trabalhador, o agricultor, grande ou pequeno, etc., ou seja, sempre que alguma coisa parece menos bem devemos, todos, receber os apoios necessários.
Emerge também uma outra característica muito nossa, que se traduz no popular, “só dão a quem não precisa”, os que precisam não têm, (por exemplo eu, pensamos todos). Aliás, estou mesmo convencido que dificilmente existe um português que não entenda que eles, o estado, lhe deveria dar uma qualquer ajuda e que ao outro, seja quem for, o que darão ou possam dar, não é merecido ou adequado.
Parece-me, de facto, um bom retrato de uma sociedade acomodada, dependente, em que cada um parece excessivamente centrado no seu mundo, pequeno ou maior, e sem confiança ou capacidade de empreendimento individual.
Existe, como no Público se sugere, a possibilidade de leituras mais optimistas e simpáticas e eu gostava de estar enganado, mas acho que não.

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