Ao fim da tarde, depois da lida de sábado e com é hábito no Meu Alentejo, ficamos algum tempo nas lérias, eu e o Velho Marrafa.
Como não podia deixar de ser, a conversa encaminhou-se para as dificuldades das pessoas e o fardo pesado que carregam. O Velho Marrafa dizia que as pessoas do Alentejo, sobretudo os mais velhos, estão habituadas a fardos pesados, a vida sempre lhes foi dura. Para exemplificar, mostrou o longo caminho que foi percorrido desde o trabalho de sol a sol, muitas vezes até sete dias na semana, a passagem por ter e ganhar os feriados, passar a trabalhar só as oito horas e a riqueza de ter férias pagas.
No fim da sua viagem conclui com a tranquilidade que nele parece um ser e não um estar, que culpa dos problemas, os de hoje e os de sempre é dos atravessadiços. Provavelmente, tal como eu, ficarão intrigados com a referência.
Pois o Velho Marrafa esclareceu que os atravessadiços são aquelas pessoas que sendo assim "atravessadas" só pensam nelas, nunca pensam nos outros. Fazem tudo para sair beneficiadas mesmo que isso possa prejudicar os outros. Depois, à medida que têm mais coisas e mandam mais, ainda mais querem ter e mandar e como são atravessadiços, causam muitos problemas aos outros sem se preocuparem com isso. O Velho Marrafa rematava sem a menor dúvida, "Veja-me lá Senhor Zé se os que mandam, os que são grandes, se importam alguma coisa com os pequenos? Nada, mesmo nada".
Não é assim uma teoria muito sofisticada mas o Velho Marrafa é capaz de ter alguma razão. Anda por aí muito atravessadiço em lugar de mando.
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