sexta-feira, 5 de novembro de 2010

O DESPERDÍCIO

Durante as rotinas matinais chamou-me a atenção uma peça de um noticiário televisivo dedicada ao desperdício que representa as sobras, não os restos, restos de comida confeccionada nos restaurantes que vai diariamente para o lixo.
Muitos restaurantes, num bom exemplo de responsabilidade social, estariam na disposição de providenciar essas sobras a instituições de solidariedade social mas estão impedidos de o fazer devido às restrições legais nas condições de transporte e distribuição de alimentos fiscalizadas pela ASAE e entendem, com alguma razão não ser seu dever providenciar também o transporte já que dão a comida confeccionada.
Esta questão está, aliás, a ser objecto de uma petição que há algum tempo passou pelo meu computador. Como é evidente, importa proteger a saúde pública e acautelar riscos. No entanto é quase criminoso que num período em que disparam as solicitações junto dos Bancos Alimentares e das instituições sociais todos os dias se coloquem no lixo toneladas de comida confeccionada.
Como dizia um responsável de um restaurante as autarquias poderiam providenciar um transporte adequado cujo custo seria, creio, amortecido pelo valor dos bens distribuídos o que minimizaria os gastos em apoios.
É por questões desta natureza que às vezes me refiro às dimensões de natureza ética e do sistema de valores que estão directamente ligadas aos tempos difíceis que atravessamos. Assistimos sem grandes sobressaltos à luta pela sobrevivência diária de milhões de portugueses em situação de pobreza ou em risco e, com a mesma tranquilidade, assistimos ao obsceno desperdício diário de bens de primeira e urgente necessidade, em nome da protecção da saúde pública, questão facilmente resolúvel se houvesse vontade para tal.

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