segunda-feira, 29 de novembro de 2010

A SOLIDARIEDADE EM MUDANÇA

A imprensa de hoje sublinha o facto da campanha de recolha de alimentos dos Bancos Alimentares ter batido de forma significativa os valores de recolhas anteriores. Segundo a informação disponível, recolheram-se 3265 toneladas o que significa mais 775 do que a última campanha. É também significativo o aumento de voluntários para colaborar na operação, cerca de 30 000.
Considerando os tempos difíceis que a maioria das pessoas atravessa, não pode deixar de merecer registo esta atitude de partilha e ajuda, que os mais variados discursos remetem para a solidariedade dos portugueses que emerge nos tempos mais complicados e que permite minimizar as dificuldades de alguns milhares de famílias. No entanto, convém não esquecer que tudo isto decorre dos modelos de desenvolvimento e sistemas de valores que promovem exclusão e pobreza.
Por outro lado, é muito curioso reparar que o CM titula em primeira página que "A Igreja perde 50% em esmolas", sendo que se estima a redução para metade do valor médio das dádivas ao longo da última década.
Parece algo de contraditório, a solidariedade para com a campanha dos Bancos Alimentares bate recordes de adesão em oferta e em trabalho voluntário e as ofertas à Igreja caem para metade. Parece-me interessante reflectir sobre isto. Este comportamento poderá traduzir a perda de influência social da igreja, a desconfiança face à eficácia das ofertas através das estruturas da igreja, significar que os fiéis são os mais afectados pela crise e, portanto, sentirão mais dificuldades na contribuição, a ideia de que a ajuda em géneros alimentares é mais eficaz e "segura" que em dinheiro ou ainda uma lenta emergência, e do meu ponto de vista positiva, de comportamentos sociais sem tutela política ou religiosa como também parece ser o caso do movimento que pretende criar uma rede social de aproveitamento das sobras na área da restauração que não sendo aproveitadas representam um desperdício quase criminoso.
A ver vamos.

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