Há já alguns meses referi-me aqui no Atenta Inquietude a um dos mais significativos efeitos da situação que atravessamos, o bem-estar dos miúdos, referindo explicitamente a emergência de casos de fome. De facto, em muitos agregados familiares as condições de vida estão claramente abaixo do limiar aceitável. Na altura terminei o texto com algo como, “olhem que existem crianças com fome e, portanto, a crescer mal”.
O Expresso desta semana traz um impressionante relato de situações desta natureza motivando, por exemplo, que algumas escolas estejam a abrir ao fim de semana e a ponderar fazê-lo nas férias para poder assegurar refeições a números cada vez mais significativos de crianças. Esta realidade vai certamente ter implicações no desenvolvimento e no sucesso educativo destes miúdos. Como é óbvio, em situações limite como a carência alimentar, estaremos certamente em presença de outras dimensões de vulnerabilidade que concorrerão para futuros preocupantes.
É por questões desta natureza que a contenção das despesas do estado, imprescindíveis, como sabemos, deveriam ser feitas com critérios de natureza sectorial e não de uma forma cega e apressada, mas naturalmente mais fácil e que, entre outras consequências poderão empurrar milhares de crianças para situações de fragilidade e risco com implicações muito sérias.
Lembro-me de uma história que aqui contei que me aconteceu há uns anos em Inhambane, Moçambique, quando ao passar por uma escola para gaiatos pequenos o Velho Bata me dizer que se mandasse traria um camião de batata-doce para aquela escola. Perante a minha estranheza explicou que aqueles miúdos teriam de comer até se rir, “só aprende quem se ri”, rematou o Velho Bata.
Pois é, putos com fome não aprendem.
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