Era uma vez um Homem que tinha um segredo, dizia ele. Todas as pessoas naquela terra, como em quase todas as terras, falavam muito frequentemente de coisas que gostavam de ter, ver, fazer, etc., mas que não conseguiam. Algumas coisas porque não tinham possibilidades, outras porque não dependia delas, outras ainda por diversas razões que impossibilitavam chegar a elas.
Curiosamente, o Homem sempre que ouvia alguém a falar de algo desejado e não conseguido, dizia tranquilamente que para ele não existia problema, tinha aquilo sem grandes dificuldades. Se desconfiadamente lhe perguntavam como, respondia que tinha um segredo que, naturalmente, não revelava, segredo é segredo. Às vezes as pessoas falavam em coisas até estranhas para ver o que o Homem diria mas, com a serenidade de sempre e um sorriso satisfeito, ele continuava a afirmar que para si aquilo não era um problema, também conseguia.
Acontece que o Homem vivia só e parecia ter uma vida tão cinzenta como o seu emprego o que levava as pessoas a ficarem cada vez mais convencidas de que o segredo do Homem seria a falta de juízo pois é impossível que alguém com boa cabeça diga que tem tudo e mais alguma coisa.
Como as pessoas que não têm juízo não podem ser levadas a sério, as pessoas começaram a rir-se do Homem e a meter-se com ele gozando com o seu segredo, a falta de juízo.
Ninguém sabia, os segredos não são para se saberem, que todas noites, quando se deitava o Homem escolhia o sonho que queria ter, sonhava-o tranquilamente, era esse o seu segredo. Nos sonhos conseguimos sempre ter o que queremos. Por isso se chamam sonhos.
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