Devo confessar que fiquei perplexo, coisa que nos tempos que correm já vai sendo difícil. Na primeira página do I encontro "FMI explica. Esta crise nasce do fosso entre ricos e pobres". Ficamos depois a saber que esta interpretação desta reconhecida instituição de solidariedade social assenta na análise da disparidade entre os mais ricos e mais pobre traduzida no facto de 5% deterem 34% da riqueza obrigando os restantes 95% ao endividamento que dará origem à crise.
A minha perplexidade deve-se certamente à ignorância. O FMI tem sido um suporte dos modelos de desenvolvimento económico que, com base no endeusamento desregulado do mercado, produzem justamente as desigualdades, o agravamento do fosso entre os mais ricos e os mais pobres e a exclusão. Aliás, as intervenções na política económica dos diferentes países por parte do FMI caracterizam-se por medidas que quase sempre envolvem constrangimentos nos rendimentos que, para não variar, atingem também as pessoas com menores rendimentos. Por estes dias têm sido anunciadas medidas na Irlanda, sob a responsabilidade da "ajuda" do FMI, que envolvem cortes nos subsídios de desemprego e nos apoios sociais. Destinam-se certamente a diminuir o fosso entre os mais ricos e os menos "favorecidos", como lhes chamam.
Não consigo entender se este tipo de análises se deve a desonestidade intelectual e política, a despudor ético ou se limitam a ser um discurso de conveniência, demagógico, dizendo algo que possa parecer simpático numa altura em que a vida da grande maioria das pessoas, os tais 95%, tem muito pouco de aspectos simpáticos.
Provavelmente, como quase sempre acontece em matérias relativas às políticas económicas, dever ser ignorância minha não conseguir perceber a bondade dos pontos de vista do FMI.
Haja pudor.
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