Um dos aspectos invariavelmente envolvidos na realização de acções de protesto é a contabilidade em torno dos níveis de adesão. As discrepâncias, de acordo com o posicionamento das fontes de informação, são extraordinárias. Lembram-se certamente que na última manifestação dos trabalhadores da administração pública em 6 de Novembro, a organização estimou em 100 000 os participantes e um especialista americano que se encontrava em Lisboa avaliou a participação entre 8 000 e 10 000. Não tendo estado presente e não tendo outras fontes de informação, só posso depreender que uma das fontes estará "ligeiramente" enganada.
Ainda antes de começarem a surgir os primeiros números da adesão à greve de hoje, poderemos certamente antecipar que, como é habito, se instalará um consenso estranho, todos ganharam.
As estruturas representantes da administração e dos empregadores virão muito provavelmente afirmar que se registou um bom resultado pois a iniciativa não teve a adesão referida e ou esperada, não teve impacto significativo na vida das comunidades, que fica evidente a aceitação das políticas seguidas e a bondade dos seus pontos de vista, etc.
Por outro lado, as estruturas representativas dos trabalhadores informam-nos que a adesão correspondeu às expectativas, que os trabalhadores mostraram o seu descontentamento, que o movimento sindical obteve mais uma retumbante vitória, etc.
A questão é que esta discrepância, do meu ponto de vista, acaba por desvalorizar os efeitos da própria greve pois, como é sabido, um estudo demonstrou-o há poucas semanas, os níveis de cultura política, participação cívica, precariedade laboral, etc. levam a que uma percentagem muito significativa de pessoas embora estando de acordo com a razão dos protestos não adiram à realização da greve. Não deixa de ser curioso que o líder da oposição, Pedro Passos Coelho, a seguir a uma retórica de apoio aos protestos e defesa do direito à greve lá adiantou meio embaraçado que não estava em greve.
Há circunstâncias em que quando todos afirmam que ganham, todos estão a perder.
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