domingo, 4 de janeiro de 2015

TAMBÉM NO ENSINO SUPERIOR A MONTANHA PARIU UM (C)RATO

"A reforma do superior não saiu do papel e poucos acreditam que este ano seja diferente"

O Público de hoje, creio que numa espécie de balanço, afirma que a prometida reforma do ensino superior ficou por fazer, colocando especial ênfase na questão essencial da reorganização da rede do ensino superior universitário e politécnico.
Confesso que a eventual existência de alguma mudança neste sentido é que me surpreenderia.
A ausência de alterações na rede do ensino superior, envolvendo o ensino universitário e o ensino politécnico prende-se muito mais com a gestão dos poderes locais, a partidocracia, dos seus equilíbrios e dos seus compromissos, que da racionalização ou ajustamento adequado de uma rede de ensino superior num pais como o nosso. Basta comparar o ratio de instituições de ensino superior por milhão de habitantes existente em Espanha com a nossa realidade e a diferença é extraordinária, atrás de cada árvore existe uma universidade ou um politécnico, sem falar na rede privada.
Tal como não se fez uma reforma administrativa digna desse nome, também por razões da mesma natureza, não se mexe substancialmente na rede do ensino superior. Os interesses da partidocracia local com supervisão nacional são, evidentemente, o maior obstáculo.
Discutir a natureza e dimensão da rede é algo de essencial, claro, mas é feita em algumas sedes, no interior nas instituições e envolvendo alguns dos seus elementos, e esbarra, como não podia deixar de ser, com o poder político que não quer abdicar dos poderes locais e regionais sediados em Universidades e Politécnicos, não vale a pena ser ingénuo.
No entanto, no que se refere ao ensino superior e  à acção deste governo devem registar-se aspectos como o desinvestimento no sector, a não renovação de um corpo docente envelhecido, o abandono de um número significativo de estudantes da frequência dos cursos por dificuldades económicas, a não alteração do processo de acesso que continua coincidente com o processo de certificação de conclusão do secundário que deveriam ser processos separados, etc., etc.
Ainda no domínio do ensino superior uma palavra sobre a ciência pois a tutela é a mesma. 
Neste campo foi o desastre completo, diminuição de bolsas de doutoramento e pós-doutoramento mesmo que Nuno Crato torture os números para nos convencer do contrário. Com um inaceitável processo de avaliação dos centros, unidades e laboratórios de investigação conseguiu liquidar cerca de metade do sistema de investigação nacional, incluindo estruturas com excelente reconhecimento nacional e internacional. Este processo, foi, aliás objecto de críticas contundentes por cientistas estrangeiros que as publicaram em revistas científicas de alto relevo.
De facto, também no Ensino Superior a montanha pariu um (C)rato.

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