segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

AS NOTAS ESCOLARES "INFLACCIONADAS"

"Há 24 escolas que dão por sistema notas acima do esperado"

O Público aborda uma situação bem conhecida, o Presidente do Conselho Nacional de Educação, David Justino, ainda não há muito o referia, a divergência significativa de notas verificada em algumas escolas, públicas e privadas, entre a classificação interna, as notas dadas pela escola, e a classificação externa, as notas nos exames nacionais, colocando maior ênfase na situação em que as notas das escolas parecem claramente "inflaccionadas" face aos resultados que os seus alunos obtêm nos exames nacionais.
Aliás, em muitas zonas as escolas, privadas ou públicas são "escolhidas" pelas famílias também em função deste conhecimento
Esta divergência de notas poderá ter, como, aliás, na peça se sugere, diferentes explicações, projecto pedagógico ou educativo da instituição, entendimento diferenciado sobre o próprio papel da avaliação interna, etc., mas do meu ponto de vista, tenho-o afirmado frequentemente, radica numa questão central, a conclusão e certificação de conclusão do ensino secundário e a candidatura ao ensino superior deveriam ser processos separados.
Os exames nacionais destinam-se, conjugados com a avaliação realizada nas escolas, a avaliar e certificar o trabalho escolar produzido pelos alunos do ensino secundário e que, obviamente, está sediado no ensino secundário. Neste cenário caberiam também as outras modalidades que permitem a equivalência ao ensino secundário, como é o caso do ensino artístico especializado ou recorrente em que também se verificam algumas "especificidades", por assim dizer.
O acesso ao ensino superior é um outro processo que deveria ser da responsabilidade do ensino superior e estar sob a sua tutela.
A situação existente, não permite qualquer intervenção consistente do ensino superior na admissão dos seus alunos, a não ser a pouco frequente definição de requisitos em alguns cursos, o que até torna estranha a passividade aparente por parte das universidades e politécnicos, instituições sempre tão ciosas da sua autonomia. Parece-me claro que o ensino superior fazendo o discurso da necessidade de intervir na selecção de quem o frequenta não está interessado na dimensão logística e processual envolvida.
Os resultados escolares do ensino secundário deveriam constituir apenas um factor de ponderação a contemplar com outros critérios nos processos de admissão organizados pelas instituições de ensino superior como, aliás, acontece em muitos países.
Sediar no ensino superior o processo de admissão minimizaria muitos dos problemas conhecidos decorrentes do facto da média  de conclusão do ensino secundário ser o único critério utilizado para ordenar os alunos no acesso e eliminaria o “peso” das notas inflacionadas em diversas circunstâncias. Todos nós conhecemos os clássicos exemplos de alunos que se dirigem a medicina porque as suas altíssimas notas assim o sugerem, acabando por reconhecer não ser esse o seu caminho e, por outro, um potencial excelente médico que deixará de o ser porque por três vezes ficou a décimas da média de entrada.
Enquanto não se verificar a separação da conclusão do secundário da entrada no superior corremos o risco de lidar com situações desta natureza.

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