quarta-feira, 12 de novembro de 2014

MIÚDOS EM SOFRIMENTO, ADULTOS EM SOFRIMENTO

"Carrilho acusa Governo de acto “ilegal e inconstitucional” ao convidar ex-mulher para jornadas"

Os sucessivos episódios com divulgação mediática, alguns com contornos pouco vulgares, envolvendo a separação de um ex-ministro e de uma apresentadora de televisão apesar se constituir, evidentemente, de matéria que deveria ser mantida na esfera pessoal, levam-me a um pequena nota de inquietação que decorre deste caso mas considera muitíssimas outras situações da mesma natureza mas com menos visibilidade.
Apesar de em algumas separações conjugais as pessoas continuarem a viver em conjunto por dificuldades económicas, os estudos na área da sociologia familiar têm vindo a evidenciar um aumento do número de divórcios, relativizado ao número de casamentos, que parece ligado, entre outras razões, a alterações na percepção social da separação, menos “punitiva” e “culpabilizante” para os envolvidos. Estará a criar-se assim uma situação mais favorável, até do ponto de vista legal, à facilidade do processo de divórcio o que poderá levar a decisões, cuja bondade não avalio, que podem ser apressadas, por decisão não assumida por ambos e não antecipando a necessidade de minimizar eventuais impactos, sobretudo quando existem filhos como é o caso que motiva estas notas.
Neste quadro, podem emergir nos adultos, ou num deles, situações de sofrimento, dor e/ou raiva, que “exigem” reparação e ajuda. Muitos pais lidam sós com estes sentimentos pelo que os filhos surgem frequentemente como o “tudo o que ficou” ou o que “não posso, não quero e tenho medo de também perder”. Poderemos assistir então a comportamentos de diabolização da figura do outro progenitor, manipulação das crianças tentando comprá-las (o seu afecto), ou, mais pesado, a utilização dos filhos como forma de agredir o outro o que torna necessária a intervenção reguladora de estruturas ou serviços que se deseja oportuna no tempo e eficaz na ajuda. Este tipo de situações que tem sido bem patente em vários episódios envolvendo a separação deste casal e os seus filhos pode atingir limites sem retorno como temos vindo a assistir com alguma regularidade.
É obviamente imprescindível proteger o bem-estar das crianças, o superior interesse da criança, o princípio fundador do olhar actual sobre crianças e jovens mas não devemos esquecer que, em muitos casos, existem também adultos em enorme sofrimento e que a sua eventual condenação, sem mais, não será seguramente a melhor forma de os ajudar. 
Ajudando-os, os miúdos serão ajudados e protegidos. Também aqui a imprensa deveria sentir-se obrigada a não esquecer o superior interesse da criança. já que os pais, em sofrimento por demasiados centrados em si mesmos, perdem lucidez para o fazer.
Quero ainda sublinhar que, por princípio, prefiro uma boa separação a uma má família.

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