domingo, 16 de novembro de 2014

DEFINITIVAMENTE, ESTUDAR COMPENSA

Desculpem a insistência mas a questão justifica. Num inquérito a 2200 alunos de 30 escolas de 11 municípios portugueses realizado pela EPIS – Associação de Empresários pela Inclusão Social, divulgado no Expresso, constata-se que apenas 54.5% dos inquiridos tem intenção de frequentar o ensino superior, o valor mais baixo dos 3 anos em que decorreu o inquérito. Na mesma linha, aumenta o número de alunos que pretende ficar pelo 12º, 39.5%, e dos que nem sequer pretendem passar do 9ºano, 6%. Aos dados dos alunos acresce um abaixamento das expectativas das famílias de que os seus filhos entrem no ensino superior.
Estes dados são preocupantes como várias vezes tenho aqui referido pois esta tendência vem sendo registada.
Presumo, há também indicadores nesse sentido, que as dificuldades económicas não serão alheias às intenções manifestadas. No entanto, temo que o número relativamente baixo de alunos com a intenção de adquirir formação de nível superior possa também estar ligado à perversa e errada ideia do “país de doutores” que, muitas vezes com o auxílio de uma imprensa preguiçosa e negligente, se foi instalando a propósito do número de jovens licenciados no desemprego e da conclusão de que “não vale a pena estudar”, um verdadeiro tiro no pé e que não corresponde de todo à verdade.
Em primeiro lugar, os jovens licenciados não estão no desemprego por serem licenciados, estão no desemprego porque temos um mercado pouco desenvolvido e ainda insuficientemente exigente de mão-de-obra qualificada e muitos estão no desemprego porque, por desresponsabilização da tutela, a oferta de formação do ensino superior é completamente enviesada distorcendo o equilíbrio entre a oferta e a procura.
Também não esqueço, recorrente o afirmo, que é urgente aprofundar a estruturação de percursos formativos diferenciados, nem todos têm que acabar no ensino superior, evidentemente, mas esta diferenciação na oferta formativa e na duração dos percursos de educação e qualificação não pode assentar na ideia de percurso de "primeira", para os mais dotados, e de percursos de "segunda" para os outros. Mais grave ainda é o abandono escolar sem qualificação.
É ainda importante recordar que, segundo o Relatório da OCDE, "Education at a Glance 2012", já aqui citado, a diferença salarial de jovens com licenciatura para jovens com formação a nível do secundário, é de 69 %, um bom indicador para o impacto da qualificação. Aliás, Portugal é um dos países em que mais compensa adquirir formação e qualificação.
Neste cenário e como sempre afirmo, o discurso muitas vezes produzido no sentido de que "não adianta estudar" não colhe e não tem sustentação, sendo um autêntico tiro no pé de uma sociedade pouco qualificada como a nossa.

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