No Público encontra-se uma peça extremamente elucidativa do que está em jogo no processo de revindicação dos professores que, incompreensivelmente ou talvez não, se arrasta há demasiado tempo com custos que deveriam ser ponderados por quem é responsável por políticas públicas.
São divulgados 45 “retratos” de professores
que são exemplos de uma classe que expressa o cansaço e desânimo de muitos anos
a sentir-se maltratada, desvalorizada socialmente e profissionalmente, sem
estabilidade e perspectivas de carreira, cansada e envelhecida e com quadros de
mal-estar preocupante
A natureza dos problemas
envolvidos, o cansaço e desânimo que os professores sentem, a injustiça e
desvalorização de que se sentem alvo, a burocracia asfixiante, o mal-estar acrescido
pela manutenção de discursos e intervenções erráticas por parte da tutela e o
recurso a procedimentos que, mais do que esclarecer ou contribuir para a
solução, agudizam o confronto não favorecem a possibilidade de concertação e
confiança.
O clima das escolas está
significativamente alterado e, naturalmente, com impacto no trabalho de alunos,
professores, funcionários, técnicos, direcções.
Uma política pública em matéria
de educação está ao serviço da educação e das comunidades educativas e da
qualidade do seu trabalho, é um instrumento de construção do futuro está
obrigada a ter solidez ética, ser competente e politicamente clara.
São testemunhos de professores,
pessoas, já com muitos anos de serviço, que percorrem o país procurando alguma
estabilidade profissional.
Esta instabilidade é vivida com
custos severos do ponto de vista económico, muitos docentes mantêm duas
residências, familiares, separação forçada de filhos e cônjuges e também ponto de vista, emocional com potenciais riscos no bem-estar pessoal e desempenho
profissional. Correm atrás da esperança de acumular tempo de serviço que lhe
garanta colocação efectiva e mais próxima. A prolongar-se, a situação pode
constituir mais um contributo para a baixa atractividade que, actualmente, a
carreira docente parece revelar. Mais um efeito de um processo que não poderia decorrer
da forma que está.
Muitos professores, alguns com
muitos anos de experiência, vivem vidas adiadas, sem estabilidade, mantendo a
dependência familiar ou adiando a vida familiar própria.
Parece também adiada a esperança
e a confiança num futuro melhor.
Reafirmo a ideia de que os
sistemas educativos considerados como tendo melhor qualidade, independentemente
dos critérios de análise, são, em regra, os que mais valorizam os professores,
em termos sociais, em termos profissionais e também no estatuto salarial.
Deixem-me insistir, a defesa da
qualidade da educação e da escola, pública e também privada, passa
incontornavelmente pela defesa e valorização das condições de trabalho, em
diferentes dimensões, que possibilitem que o desempenho de escolas,
professores, directores, técnicos, funcionários, alunos e pais tenha o melhor
resultado possível.
A eternização deste conflito não
serve a ninguém. Negociar com seriedade e justiça servirá a todos.
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