domingo, 11 de junho de 2023

UMA BOA NOTÍCIA E UMA INQUIETAÇÃO

 Nos tempos que correm é importante a existência de notícias positivas no mundo da educação. De acordo com dados Direcção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciência divulgados no Público, em 21/22 estavam inscritos mais de 15000 alunos que no ano anterior. A subida maior verificou-se no pré-escolar, quase oito mil novos alunos.

Embora os números não traduzam um aumento da natalidade, é significativa a inversão da tendência de queda da demografia escolar que se tem verificado nos últimos anos.

No entanto, esta notícia coloca uma inquietação, que escola temos para receber estes alunos, sobretudo os que estão a começar, mas também pensando nos que já estão no seu percurso pela escolaridade obrigatória.

Na verdade, a educação, a escola, atravessa tempos críticos. Arrasta-se um processo de reivindicação de uma classe docente que expressa o cansaço e desânimo de muitos anos a sentir-se maltratada, desvalorizada socialmente e profissionalmente, sem estabilidade e perspectivas de carreira, cansada e envelhecida e com quadros de mal-estar preocupante. Tudo isto se traduz numa preocupante baixa na capacidade para atrair novos professores.

A natureza dos problemas envolvidos, o cansaço e desânimo que os professores sentem, a injustiça e desvalorização de que se sentem alvo, a burocracia asfixiante, o mal-estar acrescido pela manutenção de discursos e intervenções erráticas por parte da tutela e o recurso a procedimentos e discursos que, mais do que esclarecer ou contribuir para a solução, agudizam o confronto não favorecem a possibilidade de concertação e confiança. Episódios recentes acentuam essa preocupação.

O clima das escolas está significativamente alterado e, naturalmente, com impacto no trabalho de alunos, professores, funcionários, técnicos, direcções.

Parece verdadeiramente imprescindível dotar as escolas de forma continua e estável dos recursos necessários para minimizar tanto e tão rápido quanto possível as dificuldades que identificam. Recursos suficientes para recorrer a apoios tutoriais ou ao trabalho com grupos de alunos de menor dimensão, apoios específicos a alunos mais vulneráveis, técnicos, psicólogos, por exemplo, num rácio que possibilite um trabalho multidimensionado como é exigido, etc., são essenciais e serão sempre essenciais. Torna-se também necessária a existência de dispositivos de regulação que sustentem o trabalho desenvolvido e de processos desburocratizados.

Hoje mais do que nunca, como ontem escrevi, precisamos de uma escola pública que cumpra o seu desígnio constitucional.

As políticas públicas de educação têm a enorme responsabilidade de assegurarem que tal aconteça. Não podem falhar.

Sem comentários: