Nos tempos que correm é importante a existência de notícias positivas no mundo da educação. De acordo com dados Direcção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciência divulgados no Público, em 21/22 estavam inscritos mais de 15000 alunos que no ano anterior. A subida maior verificou-se no pré-escolar, quase oito mil novos alunos.
Embora os números não traduzam um
aumento da natalidade, é significativa a inversão da tendência de queda da
demografia escolar que se tem verificado nos últimos anos.
No entanto, esta notícia coloca
uma inquietação, que escola temos para receber estes alunos, sobretudo os que
estão a começar, mas também pensando nos que já estão no seu percurso pela
escolaridade obrigatória.
Na verdade, a educação, a escola,
atravessa tempos críticos. Arrasta-se um processo de reivindicação de uma classe
docente que expressa o cansaço e desânimo de muitos anos a sentir-se
maltratada, desvalorizada socialmente e profissionalmente, sem estabilidade e
perspectivas de carreira, cansada e envelhecida e com quadros de mal-estar
preocupante. Tudo isto se traduz numa preocupante baixa na capacidade para
atrair novos professores.
A natureza dos problemas
envolvidos, o cansaço e desânimo que os professores sentem, a injustiça e
desvalorização de que se sentem alvo, a burocracia asfixiante, o mal-estar
acrescido pela manutenção de discursos e intervenções erráticas por parte da
tutela e o recurso a procedimentos e discursos que, mais do que esclarecer ou
contribuir para a solução, agudizam o confronto não favorecem a possibilidade
de concertação e confiança. Episódios recentes acentuam essa preocupação.
O clima das escolas está
significativamente alterado e, naturalmente, com impacto no trabalho de alunos,
professores, funcionários, técnicos, direcções.
Parece verdadeiramente imprescindível
dotar as escolas de forma continua e estável dos recursos necessários para
minimizar tanto e tão rápido quanto possível as dificuldades que identificam.
Recursos suficientes para recorrer a apoios tutoriais ou ao trabalho com grupos
de alunos de menor dimensão, apoios específicos a alunos mais vulneráveis,
técnicos, psicólogos, por exemplo, num rácio que possibilite um trabalho
multidimensionado como é exigido, etc., são essenciais e serão sempre
essenciais. Torna-se também necessária a existência de dispositivos de
regulação que sustentem o trabalho desenvolvido e de processos
desburocratizados.
Hoje mais do que nunca, como
ontem escrevi, precisamos de uma escola pública que cumpra o seu desígnio
constitucional.
As políticas públicas de educação
têm a enorme responsabilidade de assegurarem que tal aconteça. Não podem falhar.
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