Os tempos que vamos vivendo fazem-me lembrar a história do Homem que viveu do ar, toda a vida.
É verdade. Lá naquela terra em
que acontecem coisas existiu um homem que viveu do ar, toda a vida.
Ainda em pequeno, era um miúdo
esperto, começou a perceber qual era o ar que os professores e pais gostavam
que ele tivesse. Compunha esse ar e conseguia parecer um miúdo atento, sabedor
e simpático. Não era assim tão atento e tão sabedor, mas como compunha um ar
simpático de quem precisava, alguns colegas davam uma mão e ele foi-se safando,
sem brilho, mas com o ar de quem o tinha. Quando alguma coisa não corria bem, o
seu ar de vítima e de inocente livrava-o de complicações.
Foi-se fazendo assim, acabou por
tirar um curso que lhe pareceu acessível e onde o seu ar assertivo e confiante
lhe granjeou a simpatia de colegas e professores que, à falta de melhor, se
contentavam com o ar e o discurso que gostam de ver e ouvir.
A partir de certa altura, o homem
que vivia do ar achou por bem dedicar-se à actividade política, coisa que
naquela terra não era particularmente apreciada. Inteligente, desde logo compôs
o ar que ele percebia que as pessoas gostavam que um político tivesse. Com esse
ar e dizendo exactamente o que as pessoas queriam ouvir, acabou por desempenhar
actividades de governo.
Com a ajuda de um grupo de
assessores e do seu ar de quem sabia sempre do que falava, acabou por ter uma
carreira razoavelmente longa.
Retirou-se e gozou um tempo de
reforma sempre com o ar de quem tinha vivido uma vida plena ao serviço dos
outros.
Ainda hoje naquela terra existe uma legião de seguidores que passa a vida a viver do ar e, muitos deles, todos os dias no ar, o espaço mediático, o mais atractivo cenário para quem vive do ar.
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