A Direcção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciência divulgou dados relativos a 21/22 da medida Apoio Tutorial
Específico que, sem surpresa, mostram resultados positivos.
Os modelos de natureza tutorial,
conforme as boas práticas já existentes em muitas escolas e os estudos
nacionais e internacionais sustentam, são ferramentas sólidas e eficazes para
acomodar e responder a dificuldades de alunos e professores nos processos de
ensino e aprendizagem.
Defendo de há muito dispositivos
desta natureza até como forma de gerir de forma adequada os recursos docentes
já integrados no sistema e que manifestamente podem ser utilizados em programas
de tutoria ou coadjuvação. Aliás, é também interessante o recurso a alunos para
programas de tutoria com vantagens recíprocas, para tutores e para tutorandos.
No entanto, e talvez ajude a
perceber alguns dos resultados menos positivos, o Programa de Tutoria em
desenvolvimento, da forma como está desenhado, quatro horas semanais por
professor tutor para 10 alunos como princípio, e considerando o perfil de
intervenção definido e que julgo adequado, tem evidentes constrangimentos. No
entanto, também já estamos habituados a que o empenho, competência e
profissionalismo da generalidade dos professores minimizem insuficiências que
ninguém estranhará. No entanto, não existem milagres e a negação de dificuldades
ou exercícios de “wishfull thinking” não resolvem os problemas.
Recordemos as funções atribuídas.
a) Reunir nas horas atribuídas
com os alunos que acompanha;
b) Acompanhar e apoiar o processo
educativo de cada aluno do grupo tutorial;
c) Facilitar a integração do
aluno na turma e na escola;
d) Apoiar o aluno no processo de
aprendizagem, nomeadamente na criação de hábitos de estudo e de rotinas de
trabalho;
e) Proporcionar ao aluno uma
orientação educativa adequada a nível pessoal, escolar e profissional, de
acordo com as aptidões, necessidades e interesses que manifeste;
f) Promover um ambiente de
aprendizagem que permita o desenvolvimento de competências pessoais e sociais;
g) Envolver a família no processo
educativo do aluno;
h) Reunir com os docentes do
conselho de turma para analisar as dificuldades e os planos de trabalho destes
alunos.
Quem conhece a realidade das
escolas e as problemáticas complexas dos alunos em insucesso, com desmotivação,
desregulação de comportamento, ausência de projecto de vida, falta de
enquadramento e suporte familiar, lacunas graves nos conhecimentos escolares de
anos anteriores, etc., quase sempre presentes e só para referir dimensões
relativas aos alunos, percebe a dificuldade de reverter, para usar um termo em
voga, o seu trajecto escolar.
À luz do que me parece ser um
trajecto de defesa da efectiva autonomia das escolas, preferia que, dando o ME
orientação e a possibilidade de gerir e alocar recursos a estes programas, que
fossem as escolas a organizar os seus programas de tutoria, definindo
destinatários, professores e técnicos envolvidos, tempos de realização e
objectivos a atingir.
Caberia, evidentemente, às
escolas e ao ME a regulação e acompanhamento dos programas e a sua avaliação.
Sabemos, é uma referência comum, a existência de “constrangimentos” que pesam nos recursos disponíveis. Neste cenário parece claro que que muitos professores que não conseguem a vinculação o poderiam fazer para poder alargar este dispositivo de apoio a mais alunos. As decisões em matéria de política pública de educação têm exactamente, também essa função, minimizar problemas e gerir da melhor forma os recursos. A questão dos custos nesta matéria não me parece relevante face aos potenciais benefícios.
No entanto, mais uma vez e não
esquecendo a necessidade de combater desperdício e ineficácia, é bom recordar
que a qualidade da educação e a promoção do sucesso (traduzido em competências e conhecimentos adquiridas) para todos os alunos não
representam despesa, são investimento.
Sem comentários:
Enviar um comentário