Parece-me particularmente interessante e oportuna a reflexão de Francisco Laranjo no Público, “Regresso ao futuro da escola: dos ecrãs aos livros”.
O texto recoloca de forma pertinente a questão da
transição digital em matéria de educação escolar. No mesmo sentido retomo algumas
notas.
Apesar do seu enorme potencial as
ferramentas digitais não são a poção mágica para o ensino e aprendizagem. Os
computadores ou tablets na sala de aula, os smart boards, não promovem sucesso
só pela sua existência. A forma como são utilizados por professores e alunos é
que potencia a qualidade e os resultados desse trabalho. Aliás, o mesmo se pode
dizer de qualquer outro recurso ou actividade no âmbito dos processos de
aprendizagem.
É certo que múltiplos estudos e
experiências valorizam estes recursos nos processos de ensino e aprendizagem
pelo que é importante garantir o acesso pela generalidade dos alunos, mas, não
podem passar a ser o tudo no trabalho escolar.
Neste contexto e como já tenho
afirmado, considerando o que se sabe em matéria de desenvolvimento das crianças
e adolescentes, dos processos de ensino e aprendizagem e da sua complexa teia
de variáveis, das experiências e dos estudos neste universo, mesmo quando
aparentemente contraditórios:
1 – O contacto precoce com as
tecnologias digitais é, por princípio, uma experiência positiva para os alunos,
para todos os alunos, se considerarmos o mundo em que vivemos e no qual eles se
estão a preparar para viver. Nós adultos ainda estamos a pagar um preço elevado
pela iliteracia, os nossos miúdos não devem correr o risco da iliteracia
informática. Os tempos da da pandemia mostraram isso mesmo.
2 – O computador/tablet, kits
robóticos, smart boards, etc., na sala de aula são mais uma ferramenta, não são
A ferramenta, não substitui a escrita manual, não substitui a aprendizagem do
cálculo, não substitui coisa nenhuma, é “apenas” mais um meio, muito potente
sem dúvida, ao dispor de alunos e professores para ensinar e aprender e
agilizar o acesso a informação e conhecimento.
3 - O que dá qualidade e eficácia
aos materiais e instrumentos que se utilizam na sala de aula não é a tanto a
sua natureza, mas, sobretudo, a sua utilização, ou seja, incontornavelmente, o
trabalho dos professores é uma variável determinante. Posso ter um computador
para fazer todos os dias a mesma tarefa, da mesma maneira, sobre o mesmo tema,
etc. Rapidamente se atinge a desmotivação e ineficácia, é a utilização adequada
que potencia o efeito as capacidades dos materiais e dispositivos.
4 - Para alguns alunos com
necessidades especiais o computador pode ser mesmo a sua mais eficiente
ferramenta e apoio para acesso ao currículo.
5 – Para além de garantir o
acesso dos miúdos aos materiais é obviamente imprescindível promover o acesso a
formação e apoio ajustados aos professores sem os quais se compromete a
qualidade do trabalho a desenvolver bem como, evidentemente, assegurar as
condições exigidas para que o material possa ser rentabilizado.
6 – Finalmente, como em todo o
trabalho educativo, são essenciais os dispositivos de regulação e avaliação do
trabalho de alunos e professores.
Como referi acima não existem
poções mágicas em educação por mais desejável que possa parecer a sua
existência. Não deixemos que o fascínio deslumbrado pelas "salas do
Futuro" faça esquecer os problemas do presente.
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