Bom, aí está o produto sazonal que dá pelo nome de “rankings escolares” nas suas diferentes declinações e leituras dos dados disponibilizados e bem pelo ME. Agora, relativos a 2022. Em linha com a sazonalidade, umas notas repescadas.
Apesar de continuar com
dificuldade em defender a sua bondade, não tenho uma atitude fundamentalista
face à sua construção. Sublinho, sobretudo, a evolução que se tem verificado
nos últimos anos, quer na disponibilização de informação por parte do ME para além
dos “meros” resultados da avaliação externa, quer na forma como essa informação
é tratada e divulgada por diferentes entidades e imprensa. Se me parece muito
importante a análise dos dados providenciados pelo ME, já me parece bem menos
relevante a construção de listas classificativas de escola.
Continuo também a sentir-me
incomodado com as estratégias de marketing dos negócios da educação a propósito
da divulgação dos rankings, basta olhar para as páginas da imprensa que divulga
rankings.
A mais frequente defesa da sua
construção assenta na importância da avaliação externa. No entanto, é evidente
que a imprescindível avaliação externa não tem que, necessariamente, obrigar à
construção dos rankings que, aliás, alguns países não realizam. Curiosamente, em
Singapura terá sido decidido em 2018 abolir a construção e divulgação de
rankings escolares com base nos resultados em exames bem como não divulgar
outras informações de natureza comparativa sobre o desempenho escolar dos
alunos.
A decisão, de acordo como o
Ministro da Educação, Ong Ye Kung afirmou na altura, assenta no princípio a
promover junto dos alunos e famílias que “aprender não é uma competição”.
Aliás, é interessante considerar toda a argumentação e sustentação da medida. A
decisão é ainda mais surpreendente considerando a posição cimeira habitualmente
ocupada por Singapura nos estudos comparativos internacionais e na sua habitual
defesa destes dispositivos.
Mas existindo e apesar das
mudanças que se têm verificado que mostram, ou não, os rankings?
Dificilmente mostrarão algo de
substantivamente diferente como é que claro.
Mostram que genericamente as
escolas privadas apresentam melhores resultados e que também existem escolas
privadas com resultados mais baixos. Mostram algumas notas simpaticamente altas.
Mostram que existem escolas
públicas com bons resultados e escolas públicas com resultados menos bons.
Mostram uma descida significativa das notas a matemática.
Mostram que existem escolas que
face ao contexto sociodemográfico que servem conseguem bons resultados ou, pelo
menos, progresso no trajecto dos alunos e que existem escolas públicas que
ainda não conseguem contrariar o destino de muitos dos seus alunos.
Mostram que a tradição ainda é o
que era, pais (mães) mais escolarizados, têm, potencialmente, filhos com
melhores resultados.
Mostram que as escolas públicas
são as que mais progressos promovem nos alunos embora não cheguem de forma
significativa aos lugares superiores dos rankings da superação. E tal situação
é tanto mais de registar quanto sabemos as dificuldades e falta de recursos que
se verificam
Mostram que nas escolas com
melhores resultados, em regra, são as que têm menos alunos abrangidos pela
Acção Social Escolar.
Mostram que a escola, os
professores, fazem a diferença.
Mostram ainda que se continua a
falar de “melhores escolas” e “piores escolas”.
Mostram que …
Enfim, os rankings mostram tudo,
só não mostram o que se fará considerando a informação que os rankings mostram, com que meios, com que recursos humanos, com que políticas públicas.
Na verdade, também não mostram o tanto que não se consegue medir, mas se pode
avaliar e que é tão essencial como o que se mede.
Quatro notas finais.
1 - A propósito de rankings -
Gert Biesta da Universidade Stirling numa obra notável, "Good Education in
a Age of Measurement - Ethics, Politics, Democracy", afirma que uma
obsessão centrada na medida, assenta na gestão continuada de uma dúvida,
"medimos o que valorizamos ou valorizamos o que medimos?"
2 - Por onde andam nos rankings
os alunos com necessidades educativas especiais? (desculpem o termo não inovador dentro do
novo paradigma, mas ainda não me habituei às novas "não categorias"
como "adicionais", "selectivas" ou "adicionais"). Provavelmente à espera da operacionalização
de um novo indicador-chave da avaliação das escolas, a inclusão de cuja
consideração na construção dos rankings não me dei conta.
3 – Continuo com a dúvida
expressa por Gil Nata e Tiago Neve do Centro de Investigação e Intervenção
Educativas da U. do Porto que num texto no Público a propósito dos rankings de
há dois anos escreviam, “Assim, passados 20 anos, a pergunta impõe-se onde
estão as evidências de que a publicação dos rankings tenha contribuído para a
melhoria do sistema educativo?”
4 – Há algum tempo a directora de
um agrupamento de escolas que ocupa posições bem abaixo nos rankings e à qual
de me desloco alguma regularidade para colaborar em algumas iniciativas, dizia-me,
“Como conhece algumas pessoas da imprensa diga-lhes para nos visitarem durante
o ano a ver o que fazemos. É que quando aqui vêm é por causa do ranking, e nós
fazemos tantas coisas com os alunos e com os pais”. E eu sei que sim.
Para o ano cá estaremos e atentos
ao que resulta deste ano duríssimo para a escola pública.
E voltarei a estas notas. São
assim os produtos sazonais.
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