No DN encontra-se uma peça que aborda uma questão marcante da nossa sociedade, a solidão nos idosos.
Portugal é um país particularmente marcado pelo rápido envelhecimento
da população. Temos duas vezes mais idosos que crianças e jovens, Portugal é o
país da União Europeia a envelhecer mais rapidamente, com quase duas vezes mais
idosos do que crianças e jovens, 182 por cada 100, dados da PORDATA. A mudança
que tem vindo a verificar-se sugere que a situação se vá acentuando. O director
Observatório da Solidão refere que "Os nossos dados apontam para que
exista a possibilidade de solidão em cerca de 5 em cada dez pessoas".
Num tempo em que toda a gente parece integrar uma ou várias redes sociais parece estranha a referência à solidão que se pode tornar numa condição de alto risco. Muitos trabalhos identificam consequências sérias da solidão, quer na saúde física, quer na saúde mental.
De facto, a solidão, o sozinhismo, é uma condição que afecta
imensa gente de várias idades, mesmo nos mais novos, mas que atinge com
particular incidência os mais velhos e tem vindo a acentuar-se na sequência da
alteração dos estilos de vida e dos valores que tecem a vida das comunidades que vão perdendo as relações de vizinhança.
No entanto a questão agrava-se com os muitos que, para além
de viverem sós, vivem isolados. São sobretudo estes que o sozinhismo ataca.
De facto, algumas pessoas, por condições económicas,
dignidade e preservação da autonomia vivem sós, mas não estão isolados. Outros
acumulam, vivem sós e isolados, por impotência, falta de recursos ou de
família.
Apesar do que consta nas certidões de óbito, especialmente
nos tempos do frio, estou convencido que a verdadeira causa da morte de muitos
velhos é o sozinhismo, a doença que ataca os que vivem sós, isolados, que
perderam o amparo. Ataca especialmente os velhos, mas não só os velhos.
Trata-se de uma doença moderna, cujas causas são conhecidas,
cujo terapia também está encontrada, mas que parece difícil combater. Estão em
extinção as relações de vizinhança e a vivência comunitária, fontes
privilegiadas de protecção dos mais velhos.
Quem não vive só, isolado, mais facilmente resiste às
mazelas de diferente natureza que a idade traz quase sempre. As pessoas são,
espera-se, fonte de saúde e calor.
Reafirmo que embora tenha referido mais em particular a
situação dos velhos, o sozinhismo também ataca crianças e jovens com
consequências por vezes devastadoras.
Na verdade, o sozinhismo poderá ser verdadeiramente a causa
ou o gatilho de problemas para muita gente.
No entanto e como sempre, para além das necessárias
políticas sociais emergentes do estado e das instituições privadas de solidariedade
impõe-se a percepção pelas comunidades, designadamente pelas famílias, do drama
da solidão e do isolamento.
Na peça são referidas diferentes iniciativas, por cá e fora,
que podem ser bons contributos no combate à solidão
É sempre questão de redes sociais, mas não das virtuais.
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