Inicia-se amanhã o segundo período escolar ainda que em algumas comunidades educativas se tenha “semestralizado” o ano escolar. Mais do que o terceiro creio que é este o período das decisões. Na verdade, embora falte o terceiro trimestre este que agora começa parece-me ser o mais importante no calendário escolar.
Este reinício de ano escolar será marcado pelo processo reivindicativo
dos docentes que, espero bem, vejam acautelados dimensões críticas para sua
valorização profissional, adequação da carreira e da avaliação, e atractividade da carreira, imprescindíveis num sistema
educativo de qualidade, como muitas vezes aqui tenho abordado.
Relativamente ao trabalho educativo, quando o primeiro
trimestre corre bem e o segundo decorre de forma igualmente positiva, normalmente, o sucesso
do ano de trabalho escolar estará praticamente assegurado.
Se os dois primeiros períodos não se desenvolverem de forma
positiva torna-se, obviamente, bem mais difícil a recuperação durante o
terceiro período e o risco de insucesso ou retenção é mais elevado.
Assim, o segundo período é um tempo em aberto, um tempo que
permitirá manter bons resultados, recuperar de algumas dificuldades ou
“certificar”, antecipando, o insucesso.
É neste aspecto que centro estas notas. De facto, alguns
alunos devido aos seus resultados menos positivos no primeiro trimestre, à sua
história escolar que poderá incluir eventuais dificuldades ou até pela imagem
que deles foi sendo construída, integrarão provavelmente um grupo, “os que não
vão lá”, para utilizar uma terminologia frequente no meio escolar.
Dito de outra maneira, a escola, algumas vezes sem se dar
conta, outras por ausência de meios ou disponibilidade e outras ainda pela
convicção de que é "normal" que nem todos aprendam apesar de
possuírem capacidades para tal, constrói sobre alguns alunos uma baixa ou nula
expectativa de sucesso que não é alheia ao “eles não vão lá” e cujos efeitos
negativos estão estudados.
Neste cenário, a escola pode vir a desistir deles e eles
podem vir a desistir da escola através de processos que nem sempre são
conscientes, quer por parte da escola, quer por parte de alunos e pais.
Curiosamente, muitos destes alunos que “não vão lá” são
reconhecidos como crianças ou adolescentes inteligentes, dotados, de tal
maneira que "se eles quisessem" teriam sucesso. O problema é que com
alguma frequência, por menor atenção, pelo número de alunos por turma e/ou por
falta de recursos, dispositivos de apoio, condições de trabalho, não
conseguimos que eles tenham sucesso, tal como eles não conseguem mobilizar
eficazmente as suas capacidades para serem bem-sucedidos. Eu sei que a
afirmação é forte e pode ser injusta em muitas situações, mas existem alunos de
quem a escola, por várias razões, parece ter “desistido”.
Importa, pois, iniciar este segundo período com expectativas
positivas face ao trabalho de alunos e de docentes. Por outro lado, é também
importante que as expectativas positivas e confiança nas capacidades dos alunos
lhes sejam claramente expressas por pais e professores. Finalmente é essencial
que os apoios a eventuais dificuldades de alunos e professores estejam
disponíveis, sejam suficientes, competentes e estruturados em tempo oportuno.
Volto ao início, a serenidade é um bem de primeira
necessidade nos contextos educativos, espero que as decisões no âmbito das políticas
públicas em matéria de educação não esqueçam o quanto e o que está causa nas
questões que envolvem os professores, a sua valorização, o clima e a autonomia
das escolas. Muito do que está não serve, muito do que se anuncia também não,
urge um entendimento, a responsabilidade é grande.
O risco de insucesso e exclusão na escola é também o
primeiro grande risco, ou mesmo a primeira etapa, da exclusão social.
Eles vão lá. Bom trabalho e Bom Ano.
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