No Expresso encontram-se duas peças que se ligam e que tratam a fraude académica. É abordada a larga oferta disponível na net que disponibiliza, por exemplo, teses de mestrado, a um custo de 800€. O mais curioso é que este “expediente” cai num vazio legal deixando tranquilos os envolvidos. Uma outra peça reflecte o impacto que neste universo pode ter o programa ChatGPT que está acessível e com base na evolução da Inteligência Artificial elabora textos coerentes e factuais sobre múltiplas temáticas. A sua acelerada evolução certamente criará novos desafios na comunidade científica e não só.
Na verdade, o plágio e outras formas de fraude é um fenómeno lamentavelmente comum no ensino superior e na comunicação científica, realidade que conheço melhor, mas não só, a título de exemplo já tive textos do blogue plagiados. Considerando o volume crescente de situações muitas instituições têm vindo a adoptar dispositivos de despiste e regulamentos que minimizem o risco de tais práticas sendo prática corrente que se acentuou durante os anos de pandemia a obrigação de submissão de trabalhos académicos a programas de análise de textos. Não é suficiente, pois xsitem outras forma de plágio levando à necessidade de ajustar da forma possível os dispositivos de avaliação no sentido de, na medida do possível, acautelar a situação de fraude.
Não tenho dados mais recentes e
recordo que o Centro de Estudos Sociais da Faculdade Economia da U. de Coimbra divulgou
em 2018 um estudo nacional sobre a questão da fraude académica cujos dados
apontavam no sentido de que de que 37.6 % dos inquiridos aceita a fraude desde
que “não prejudique ninguém”. A estes dados, pode acrescentar-se um estudo da
Universidade do Minho também já de algum tempo que referia que as situações de
algum tipo de “copianço” envolvem três em cada quatro estudantes.
Este reconhecido aumento das
situações de plágio que se verificam em todos os níveis de ensino, do básico à
formação pós-graduada, doutoramentos incluídos, bem como artigos científicos,
situação hoje bem retratada no Expresso, elucida o que costumo designar por
relação ética que estabelecemos com o conhecimento e que os alunos mais novos
replicam.
O conhecimento será entendido
como algo que se deve mostrar para justificar uma nota ou estatuto, não para
efectivamente integrar e, ou acrescentar uma mais-valia científica, ou seja,
importante mesmo é que a nota dê para passar, que o curso se finalize, que a
tese fique feita e se seja doutorado ou que se possa acrescentar mais um artigo
à produção científica num mundo altamente competitivo, muitíssimo competitivo.
Que tudo isto possa acontecer à custa da manhosice, do desenrasca mais ou menos
sofisticado, são minudências com as quais não podemos perder tempo.
É importante termos consciência
que esta questão não é um exclusivo nosso. São conhecidos casos em diferentes
países da Europa. De qualquer forma, não deixa de ser uma preocupação e
justifica que as escolas, do básico ao superior, se envolvam nesta tentativa de
que todos tenhamos uma relação sólida do ponto de vista ético com o
conhecimento, a sua produção e divulgação.
O caminho passa pelo
estabelecimento obrigatório de códigos de conduta com implicações
sancionatórias severas e com uma atitude formativa e preventiva durante as
aulas e, como referi, tentar recorrer a dispositivos de avaliação que minimizem o risco de fraude
O trabalho será sempre difícil pois o actual contexto ao nível dos valores e da ética dos comportamentos e funcionamento social é, só por si, um caldo de cultura onde o copianço, o plágio ou a fraude científica, por vezes, não passam de "peanuts".
É
a cultura do desenrascanço, não importa como.
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