Aguardo com alguma expectativa informação sobre a manifestação dos docentes e, sobretudo, o impacto e os desenvolvimentos que possam surgir que relativamente à urgência da negociação. No entanto, a crispação e conteúdos dos discursos da tutela não sugerem grande optimismo, A ver vamos.
Entretanto, uma nota relativa à colaboração
numa peça do Público sobre a questão das redes sociais e da possibilidade da
sua regulação face a riscos envolvendo crianças e adolescentes na qual retomei
aspectos já por aqui referidos.
As referências recorrentes ao
tempo excessivo e aos riscos associados à ligação que muitas crianças e
adolescentes estabelecem com a net nas suas múltiplas possibilidades
designadamente as redes sociais, são, por assim dizer, um
sinal dos tempos.
Relativamente à forma de lidar
com esta quadro creio que, tal como noutras áreas o recurso privilegiado a
estratégias proibicionistas não funciona, por isso a reserva face à iniciativa
referida na peça do Público e desencadeada nos EUA.
A promoção de uma utilização
auto-regulada e informada parece-me uma estratégia mais adequada. A net e o
mundo de oportunidades, benefícios e riscos que está presente em todas as suas
potencialidades é uma matéria que deve merecer a reflexão de todos os que lidam
com crianças e jovens embora não lhes diga exclusivamente respeito. É o nosso
trabalho, como também é nosso trabalho a exigência por mais eficazes
dispositivos de controle de acesso e na natureza dos conteúdos embora esta seja
o caminho mais difícil.
Mesmo em tempos “normais”, seja
lá isso o que for, a que estamos a voltar, muitas crianças e adolescentes têm
um ecrã como companhia em casa durante o pouco tempo que a escola "a tempo
inteiro" e as mudanças e constrangimentos nos estilos de vida das famílias
lhes deixam "livre". Também é verdade que a crescente
"filiação" em redes sociais virtuais pode “disfarçar” o fechamento,
juntando quem “sofre” do mesmo mal e o tempo remanescente para estar em
família, frequentemente ainda é passado à sombra de uma televisão.
Estas matérias, a presença das
novas tecnologias na vida dos mais novos e os riscos potenciais, por estranho
que pareça, são problemas menos conhecidos para muitos pais. Aliás, existem
demasiadas situações em que desde muito cedo os “smartphones” ou outros
dispositivos funcionam como “babysitters”. As dificuldades sentidas por muitas
famílias na ajuda aos filhos em tempo de ensino não presencial, mostrou isso
mesmo, baixos níveis de literacia digital. Considerando as implicações sérias
na vida diária importa que se reflicta sobre a atenção e ajuda destinada aos
pais para que a utilização imprescindível e útil seja regulada e protectora da
qualidade de vida das crianças e adolescentes minimizando os riscos existentes
nos “alçapões da net” muitas com riscos e consequências bem graves ou fatais.
Por outro lado, a experiência
mostra-me que muitos pais desejam e mostram necessidade de alguma ajuda ou
orientação nestas matérias. Sabemos que estratégias proibicionistas tendem a
perder eficácia com a idade.
Creio que o caminho terá de
passar por autonomia, supervisão, diálogo e informação que estimulem
auto-regulação e muita atenção aos sinais que crianças e adolescentes nos dão
sobre o que se passa com elas, sobretudo a situações que possam estar
associadas a mal-estar, que podem ser como que portas abertas para cair num
alçapão com consequências imprevisíveis.
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